quarta-feira, 11 de abril de 2012

Diário de um homem urbano - um retrato da vida absurda


O cara sai de seu trabalho, ele se sente imundo. Fora obrigado a comer fora de casa de novo e sente que sua saúde ficou um pouco mais lesada por esse motivo.
Mas pouco importa, afinal ele lesa sua saúde, muitas vezes, de forma proposital. Um cigarro, uma cerveja; ambas anestesias que matam.
Já no ponto de ônibus uma verdadeira tortura, além do cansaço que assola cada cm³ de seu corpo, o cidadão é obrigado a ouvir o mais puro lixo da industria cultural bem ao seu lado. Maldito celular sem fone!!
Ele se sentia em um apocalipse zumbi, não havia para onde correr, parecia uma terrível cena de Dawn of the Dead ou outro dos clássicos de Romero. Daquela época em que se faziam bons filmes de mortos-vivos, e havia crítica social permeando as cenas.
Mortos-Vivos pareciam as pessoas que o cercavam. Pobres vítimas da investida neoliberal, foram sabotados e agora mal conseguiam fazer uma tosca reflexão sobre suas vidas miseráveis.
A cabeça pesa, e o corpo do jovem já mostra-se debilitado pelas dores e anestesias da vida.
Vida absurda, parecia não haver lugar algum para aportar em segurança.
O momento, as lamurias da vida cotidiana o empurram para a melancolia, para o niilismo. Porém ainda havia, e meio a toda essa amargura, a chama vermelha da juventude. No íntimo de seu ser ainda havia um ultimo fôlego que o motivava a querer lutar.
Em estado de revolta permanente ele seguia, movendo seu corpo débil e envenenado, maquinando conspirações com sua mente socialista.
Ele sabia que não há sinal de luz no fundo desse poço; mas que escolha tem ele se não lutar? A vida é absurda e a revolta deve ser permanente, não podemos sucumbir ao suicídio cotidiano.
Tudo isso passou pela mente do jovem enquanto mirava a rua por trás dos vidros embaçados do coletivo. Entre um boteco, um travesti e uma prostituta, ele via um grupo de estudantes. Era uma pena, mas todos estavam interligados.
A maioria dos estudantes que ingressavam na vida adulta, tornavam-se prostitutas do sistema, travestidos daquilo que não são e acabam por afogar suas mágoas, por viver em um mundo tão funesto, em um boteco qualquer.

Marco Aurélio

2 comentários:

  1. Ótima reflexão!
    Mesmo que a maioria não reflita sobre o cotidiano, quem é que não sente essa melancolia cotidiana?
    Viva a juventude revolucionária! Esperança pra viver melhor, alimento para nossa ânsia de mudança.

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