domingo, 29 de janeiro de 2012

Grandes e Pequenos


O pequeno que defende o grande
O pequeno que reproduz o pensamento do grande
A defesa feita pelo seu igual, uma grande força
O pensamento não se reproduz, o pensamento produz

O estranho se faz presente
Aqui o que é grande, é a pequenez
A pequenez parece bela e confortável
A grandeza parece distante e intangível

E o que mais quero, senão dormir tranqüilo
Andar com destino certo
Ver o pensamento voar
Sentir o transcender

E o mundo é grande
O meu mundo pequeno
Ás vezes é preciso fechar os olhos
Pra enxergar o que não se vê, com eles abertos

OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 28 de janeiro de 2012

Poema ao Brasil


Brasil, ó meu Brasil!
Gentil pátria que me pariu...
País de encantos e desencantos mil.
És tu! Ó pátria amada Brasil...

Brasil, meu Brasil sorridente...
Da diferença indiferente,
Dos teus filhos que sentem,
A tua presença ausente...

Brasil, nosso Brasil brasilizado...
Dos governantes desgovernados,
Dos atores atordoados,
Dos informantes desinformados...

Da arte mercantilizada,
Da virtude desvirtuada,
Da moral desmoralizada:
Isto é o fim da picada!

De encantos e desencantos mil...
És tu:
Ó Pátria amada Brasil!!!

Autor: Rodrigo Petit-10/01/07
https://www.facebook.com/poesiadocaos

O Palhaço Gleizzon / Crônica Urbana II






















Gleizzon estava em sua casa, sem sono mais uma vez. Então ele veste uma camisa de flanela qualquer - fazia frio lá fora - pega suas chaves, checa os documentos, desce as escadas do prédio e sai para caminhar na penumbra.
Pelas ruas o silêncio imperava, apesar do que dizia Malthus sobre a superpopulação, ali no terceiro mundo, naquele subúrbio e àquela hora da noite, até que a cidade estava bem vazia. O jovem palhaço caminhava tranquilo, seu corpo esguio movia-se com graça pela semi-escuridão, os postes passavam vagarosamente pela sua vista, um após o outro.
Havia chovido recentemente, as ruas ainda estavam úmidas, e os pneus de um ou outro carro, que passava solitário, faziam aquele característico barulho de borracha que passa enxugando o pouco de água que sobrara  sobre o asfalto.
No bolso da camisa um isqueiro e o ultimo cigarro que sobrara naquela noite. Ele o acenderia em breve, assim que encontrasse um local tranquilo para fumar. Enquanto isso ele brincava com o fluído do acendedor, que mexia-se graciosamente conforme Gleizzon o balançava com sua mão canhota.
Antes de alcançar seu "locus amoenus" urbano, ele ainda teve tempo de observar o céu. A lua não estava presente, mas as estrelas lá estavam, vários faróis no manto negro que havia sobre sua cabeça, e apesar do esfumaçado céu que se apresentava naquela noite chuvosa, ainda era possível reconhecer as três marias;  um dos grupos de estrelas que o jovem palhaço mais gostava.
Já em um lugar completamente tranquilo - o velho ponto de ônibus - Gleizzon retira de seu bolso o cigarro amassado que lhe sobrara, acende-o com calma e dá uma tragada. O silêncio era tão grande que era possível ouvir o fumo queimando. Naquela noite, o silêncio era tão grande que seria possível ouvir os gritos de sua alma, porém naquele momento nosso jovem estava sereno. Atipicamente as coisas estavam se encaixando.
Na metade do cigarro ele vê um homem passando pela rua com uma bolsa na mão. Era um operário, que voltava de uma dia fatigante de trabalho. Então ele pensa que na casa daquele trabalhador provavelmente o aguardava uma comida fria, que com sorte foi gentilmente embrulhada por sua esposa em um papel alumínio e colocada dentro do microondas. Ele iria chegar, tomar um banho, esquentar sua janta, sentar-se à  frente da TV com o prato ao colo, acompanhar o jornal da noite enquanto comia e então se deitar. Talvez, com mais sorte ainda. faria sexo... E no outro dia, começaria tudo outra vez.
Era isso o que Gleizzon pensava, e era isso o que provavelmente iria acontecer. O sistema gira em torno da rotina, não é difícil prever o que é óbvio. O fumo já estava próximo ao filtro quando nosso jovem encerra sua reflexão, então ele se levanta e começa sua caminhada para casa. Em seu lar o que o esperava era uma lata de cerveja na geladeira, que por sorte ele havia esquecido de tomar. Naquela noite haviam motivos de sobra para o sorriso que vicejava no rosto italiano de nosso jovem palhaço. Apesar dos pesares as coisas pareciam estar se encaixando...


Marco Aurélio

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Contos e Causos do Índio - O Menino e o Velho da Montanha


Na estrada, sob a chuva fina, caminhava o menino.
Acima das nuvens, a fada prateada observava.
Fechou os olhos e tantas coisas pensou, o pedestre descalço.
A chuva cessou e parcialmente a lua surgiu.
Tinham formas de mãos as pequenas nuvens que deixavam a minguante tão triste.
" Igual mim ela chora a perda dos irmãos"
deduziu o rapaz que não pode conter as lágrimas.
"Tantos neste mundo perderam entes queridos, depois recuperados do trauma, encontram paz e aceitam a vontade do criador". O velho desceu da montanha e em assunto pausado acompanhou o garoto.
As nuvens negras desapareceram, o mestiço voltou a sorrir e a rainha da cor da prata, reinava outra vez.
Ao comando do homem de longas barbas encontrou abrigo, a criança orfã.


M.M Torres, Segura essa!!

Grato.


Autor: Neusir - Índio

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Palhaço Gleizzon / Crônica Urbana



O jovem palhaço Gleizzon resolve sair de casa para dar uma caminhada, mesmo sob a garoa fina. No bolso de sua jaqueta jeans um maço de cigarros, na mente um turbilhão de idéias. Era o caso de Pinheirinhos que ele não engolia, eram os problemas em sua vida amorosa, eram as conversas cada vez mais fúteis entre as pessoas - acerca da programação da TV ou de suas vidas medíocres. Tudo o incomodava naquela noite.
Ele caminha na chuva, tranquilo por estar longe de tudo isso, em silêncio ele caminhava e pensava. Sobre o asfalto úmido das ruas desertas do pequeno bairro, as passadas do jovem palhaço soavam firmes. A cada perna que avançava seu all star preto - todo sujo - deixava uma impressão sobre a fina lâmina de água.
Após andar por uns instantes senta-se no banco de ônibus da pracinha que havia em seu bairro. Então, ainda só, ele retira um cigarro do maço, apanha os fósforos e acende o careta. Fumando ele pensa melhor ainda. A fumaça esbranquiçada que sai de seus pulmões logo ganha o céu, misturando-se a garoa fina e proporcionando um bonito espetáculo ao jovem palhaço, que se diverte com isso. Parece triste, mas naqueles tempos não havia muito com que se divertir. Ele ainda acreditava nas pessoas, mas parecia que elas faziam de tudo para que ele desconfiasse das mesmas.
Gleizzon, um artista tão jovem, e já tão frustrado. O caso é que ele já havia se acostumado com toda aquela depressão. Era como um cancro que de tanto tempo que estava lá, incomodava menos. Ele termina o cigarro e antes de começar outro pensa ainda mais um pouco.
A chuva fazia um som tão bonito, as batidas das gotas na telha de zinco que cobria o ponto de ônibus parecia um agradável fundo musical. O pneus dos carros, rasgando a capa úmida que cobria as ruas. O som longínquo de uma ou outra TV que estava ligada na vizinhança. Pobres trabalhadores - pensava ele - estão aguardando mais um dia de trabalho e exploração. Também, que direito tenho eu de lhes tirar essa anestesia?
O fato é que a anestesia das massas não lhe servia, então ele fazia a sua de modo excêntrico. Mas ainda assim era anestesia. Há pouco tempo tinha perdido suas ilusões a respeito de uma garota, então era preciso se anestesiar de alguma forma. E nosso jovem percebera que naquela noite o simples movimento das coisas poderia servir. Havia tanta beleza no mundo para ser observada, e estava ao alcance de qualquer um, contanto que não se importe em molhar-se um pouco.
Ele acende mais um cigarro e pensa mais um pouco. De tanto pensar até deixa o cigarro queimar sozinho entre seus dedos. A fumaça sobe como se estivesse dançando no ar. E as ideias se agitam no cérebro de Gleizzon como se em sua cabeça estivesse acontecendo um baile de maxixe. E as perguntas surgiam:
- O que posso fazer para não ser mais conivente com este estado tão sem vergonha?
- O que dizer para as pessoas que me decepcionaram?
- O que fazer para acabar de vez com toda essa frustração?
- O que esperar deste mundo tão belo mas que ao mesmo tempo é tomado por ninharias e mesquinharias sem fim?
- O que fazer? O que não fazer?
Bom, naquela noite o cigarro acabou e Gleizzon não encontrou resposta alguma. Mas ele sabia que elas viriam um dia, se não estivessem no ar, estavam dentro dele mesmo. Ele então olhou as horas - o vidro de seu relógio ainda estava cheio de respingos de chuva -, então ele o limpa com sua camiseta e confirma: - 22h22min. Era hora de voltar para casa, repousar seus ossos e se preparar para um novo dia.


Marco Aurélio

Perder


Se eu morro quando perco
Um pouco da falsa liberdade

Quero sentir o gosto da sua boca
Ter você entre meus braços
E eu entre suas pernas

Meu âmago se derrama
E eu ainda estarei aqui
Quando a fumaça virar névoa

Penso no tempo
Em tanto tempo perdido
Em tanto mal adquirido

Em seu sorriso
Em seu olhar que me diz
Coisas, que não sairia de sua boca

Se te vejo
Sinto medo e tremo
Passo reto
E finjo que não te conheço
E morro quando te perco

OTÁVIO SCHOEPS

domingo, 22 de janeiro de 2012

Contos e Causos do Índio - Banalização dos Bons Costumes I


Dia destes o Professor Pedro e seu amigo estavam reunidos na lanchonete Patriarca e Espetos do Pardal. Muitas mesas com tantas garrafas de cervejas; na deles somente água mineral sem gás, acreditem, eles não bebem mesmo que não dirijam.
O jovem docente não estava bem, apesar de disfarçar tão mal. A Mônica não atendeu seu pedido para desligar a televisão, sua indignação era visível, pois a conversa girava em torno do avanço da tecnologia, porém ao lado do progresso tantas coisas que foram passadas pelos pais e avós, hoje, em certas ocasiões, perderam seu valor, tais como moral, respeito, harmonia no lar, fidelidade e até os românticos casais de namorados nos bancos da praça não existem mais. O "ficar" é a moda e tudo é permitido, incluso estão, também, os do mesmo sexo - não me taxem de homofóbico, é apenas uma observação para a exposição desnecessária, independente da opção sexual.
O senhor carismático que responde pela alcunha de Velho Índio saiu com essa: - É por isso que amo mais os vegetais. As árvores, verduras e legumes que plantei jamais me traíram... Pelo contrário, deram bons frutos e boas sementes, sem exigir nada em troca, além de água e carinho.

...


Banalização dos Bons Costumes II


Dizem que Janeiro é o mês do "I": IPVA, IPTU, Impostos, tantos. Como se não bastasse, surge mais um "I": O da Imoralidade estampada em programas televisivos. O Curioso é que um deles já está na 12ª edição consecutiva, com temas tão ruins, mas o pico de audiência é fantástico ou espetacular.

Todavia, o observador mais atento nota que o fenômeno não tem segredo. A emissora tem retransmissoras em todas partes do país e até a nível internacional; as cenas explicitas de sexo são exibidas em horário nobre, quando respeitáveis telespectadores ainda estão em frente ao aparelho, a curiosidade inibe os bons costumes e além de não desligar a televisão estes participam e se excitam com o erotismo escancarado, sendo assim são tentados a "Vale a Pena Ver de Novo".
Que importa os filhos!
Filhos?
Que filhos?
Onde estarão?
Talvez cracolando ou empinando pipa!
Triste realidade do último milênio!!
Os sodomitas e gomorreus pagaram tão caro por menos.


Aguardem textos inéditos e emocionante de Neri Jori.


Autor: Neusir - Índio

Canalha, eu?


A ação e a reação
Ser ou não ser um canalha
Pode não agir como um canalha,
Mas pode reagir como um canalha

Mais uma contradição?
Se a crítica traz a tensão
A autocrítica traz a contradição
Apenas mais uma sensação

Estrutura abalada
Fragilidade evidente
Palavra difamada
Atitude deprimente

Quando nos achamos
Também nos perdemos
E o que somos? Não sei,
Mas nem anjos e nem demônios


OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Contos e Causos do Índio - O último guerreiro e a Lua Companheira.



- Se passá desse dia, mais otro e acontecê di nois num voltá, nem que qui tu corra o risco até di morrê salvi o mulequi e fuja daqui qui vai virá o inferno. Depois mostra pra eli a lua cheia qui vai tá tão bunita.
Ao sair da aldeia, com os demais guerreiros, o caboclo Jovino, pressentiu o pior e alertou a esposa.
Mais um confronto armado estava eminente; madeireiros clandestinos, avançavam, destruindo tudo que encontravam pela frente. Com a saída do território, os nativos pretendiam conter os invasores. Era tudo que os madeireiros armados queriam. Na emboscada, não tiveram chance de reação. Tombaram mortos os últimos guerreiros da tribo Jorí. Não demorou e o reduzido povoado estava em chamas.
Amaberia largou as roupas que lavava no quarador à margem do ribeirão e correu em direção a choupana, onde Mambira sua mãe, cuidava de muitas crianças. No exato momento que chegou, o teto de sapê veio abaixo. A índia se atirou ao fogo com o intuito de salvar ao menos um dos filhos:
- Vamu fugi daqui, Mãe Beria! Gritou o menino do lado de fora.
O Garoto de treze anos de idade, retirava a mãe do sinistro. Ele havia saído momentos antes para colher amoras.
Na estrada empoeirada a mulher, com queimaduras por todo o corpo, sem forças para continuar a caminhada, talvez a lugar nenhum, mostrou a Lua Cheia que surgia entre as montanhas e falou:
- Ela é agora sua mãe, sua vó, companheira e anjo de Tupã.
Foram as ultimas palavras de Amaberia antes de entrar na mata fechada para não mais voltar.
O cansaço venceu a raquítica criança que adormeceu a beira do barranco a espera da mãe.
Neri Francisco, o único sobrevivente de sua tribo não soube do suicídio.  Durante a noite fizeram o banquete os animais.

Autor: Neusir - Índio.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Professor Pedro / Velho Amigo





O Professor Pedro voltava de mais uma grande frustração, só mais um dentre tantas. Quando no caminho para sua casa encontra um velho amigo - seu vizinho.
- Olá, como vai amigo?
- Vou bem, e você Pedro.
- Tranquilo ( era mentira ).
- Vamos Beber uma Cerveja?
- Vamos.




Então o Professor Pedro recolhe seu velho amigo, que o vira crescer e leva para uma cervejada em um buteco qualquer. Chegando lá a conversa rola tranquila, várias piadas com a programação da TV e  etc. Até que chegam num assunto decisivo - A essência humana.



- Pedro, todo mundo mente. O tempo todo. 
- Como assim?
- Pois sim Pedro, e lhe digo mais, confio muito mais na natureza do que no ser humano.


...


- Uma árvore NUNCA MENTIU PARA MIM. Toda vez que plantei manga deu manga, quando plantei goiaba deu goiaba, quando plantei jaboticaba deu jaboticaba...


Marco Aurélio

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Tutorial: 10 passos para um Jantar Free.


1º Convide seus amigos para comer fora.

2º Vá até o Extra Hipermercado.

3° Escolha uma mesa limpa,com um campo de visão amplo.

4º Sentado nesta mesa, procure por uma mesa com restos de comida, normalmente os burgueses deixam suculentas batatas, polenta e até mesmo apetitosos pedaços de frango frito - se tiver sorte ainda quentes.

5º Dê uma geral no local e comece pelas mesas mais próximas.

6º Burgueses te olharão com nojo e repugnância. Mande um foda-se, lambuze a cara e ria maliciosamente,com comunicação telepática : - Você está sustentando isso.

7º Para melhor aproveitar o banquete, negocie com seus amigos, de modo que cada um busque uma rodada de comida abandonada.

8º Se quiser comida quente deixe um de sentinela esperando alguém se levantar, isso facilita o ataque.

9° Com certeza você sentirá sede. Sempre há garrafas de coca não-vazias nas mesas,elas estarão quentes e sem gás,porém,em casos de jantar free,não dá pra ser tão exigente.

10º Após encerrar o banquete levante-se calmamente e caso não queira voltar cedo para a casa use as dilmas que economizou para comprar bebida e farrear com seus amigos na praça.

Jantar fora é uma forma bem sugestiva pra você que detesta essa porra do Capitalismo. Os burgueses pagam sua conta e você se diverte com isso. Bem contrário ao habitual. Nós pagamos a conta e a burguesia é quem sempre se diverte.


Marco Aurélio & Gabriela Felicio

domingo, 15 de janeiro de 2012

Por que os Zumbis da Direita não levam cacetada da polícia? Ah a direita, sempre a direita e seus privilégios.

Apenas uma ideia


A ideia jogada na terra
A ideia é livre, é de quem pegar
E ela brota com as marcas de quem a pegou
A ideia, já não é pura, se é que um dia foi

Uma ideia soma, se divide e se multiplica
Grandes idéias são diminuídas pra caber em que acreditamos
Uma ideia é uma facção ou uma seita, se aceita
A Ideia é luz, espada e escudo

E a luz do sol vem sem nos perguntar se estamos prontos
A mesma luz que trás a vida também queima e causa câncer
A ideia e o ego são parceiros, que disputam a vitória no ser
A ideia é uma luz que brilha no senso comum

E nós receptores de luzes e de trevas que parecem luzes
E hoje não se importam com a origem da ideia
E sim de que forma ela foi usada
A luz que brilha, queima dependendo de quem a manuseia

OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 14 de janeiro de 2012

Vício vs Fé


Na escadaria da antiga delegacia da cidade, onde pessoas eram torturadas e mais tarde ergueram uma casa cultural. É neste local que avisto um velho maluco com sua pasta de desenhos. Ele chega meio acanhado, puxa conversa e fala por uns instantes, mostra seus desenhos e depois de já desinibido da vergonha do primeiro contato diz: - Hey cara, você não tem um papel para eu enrolar meu baseado.
Desculpo-me com o camarada recém conhecido, e um outro oferece um livrinho do novo testamento que ganhou dos Gideões. O desenhista maluco sem cerimônia apanha o livro e destaca uma folha - por coincidência uma do Capítulo de São Marcos, santo que leva meu nome e mais coincidentemente ainda o de nosso amigo artista.


Na folha do livro sagrado ele enrola sua sagrada erva e sai contente por poder clarear as idéias. E ai? E ai? E AI MANOW? Será este um herege que merece ser queimado no dia do juízo final? Ou será apenas um que como tantos outros ainda não encontraram o caminho e precisa clarear as idéias?
Não quero ser indulgente nem nada do tipo, o caso é que de que valem as escrituras sagradas impressas se não há prática? Na realidade Fé neste camarada é o que não falta, pois não duvidou por nenhum instante de que se acaso Deus existe realmente, este não se importaria nem um pouco em ver um filho seu rasgando um livro que foi escrito por homens e tão mal usado através dos tempos para lhe dar alguma utilidade.

Marco Aurélio

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Professor Pedro / 1ª lei de Newton

"O Dia parece metade quando a gente acorda e esquece de levantar". TM



O Relógio de pulso aponta 12:26, ele dormiu com o relógio no braço, chegou tão tarde da madrugada que esqueceu de tirá-lo. Ele olha a hora e se lamenta , como pôde acordar tão tarde, já se foi metade do dia e ele apenas dormiu. O Professor Pedro já estava farto dessas férias.
Levanta, ainda meio sonolento, por incrível que pareça. Uma forte dor no ombro o incomoda bastante, então, apesar de não ser muito fã de medicamentos, engole um comprimido analgésico para aliviar o sofrimento que começara já cedo.
Sua velha mãe havia saído, resolver assuntos no centro da cidade, mas deixara o café sobre a mesa. Nosso jovem docente esboça um sorriso ao ver o zelo que sua mãe tinha por ele, apesar de já ser um jovem adulto ela ainda o tratava como um garoto.
Ele toma uma boa canecada de café e apanha um guaraná na geladeira para alegrar um pouco seu dia. Depois do café ele liga o computador afim de assistir alguns clipes, ler algumas notícias, enfim, se distrair. Suas leituras estavam meio paradas, ele não tinha ânimo para ler, por incrível que pareça a lei da inércia parecia se aplicar aos hábitos também.
Pois sim, ele percebera que quando estava trabalhando ele lia mais, apesar de não ter tanto tempo, agora parado a tendência era continuar parado. Engraçado. Isso é o que Pedro achava, porém não poderia permanecer desse jeito por muito tempo. Ele sabia disso.
Pedro sintoniza uma rádio que gosta de ouvir, a Kiss FM , e dá um trato nas suas coisas, já eram quase quatro horas da tarde quando ele resolve arrumar sua cama. Vejam só que dia jogado fora.
Depois disso pega um pouco o violão, ensaia umas músicas, canta um pouquinho - desafinado como sempre - e dá uma pausa para curtir um som. No Rádio estava rolando Skid Row - Breakin' Down. Então ele se lembra da noite que passara, da bebedeira com os amigos e da conversa que rasgou a madrugada na praça da Amizade. Lembra  de Lindsay, da agonia e do desespero que ambos sentiam por não saber para onde ir e o que fazer de suas vidas. Parece que todas as coisas mudam mas isso nunca muda, ninguém sabia o caminho, ninguém sabia para onde estava indo.
Não importava pela ótica que se olhava, fosse pelo realismo marxista ou pela abstrata filosofia de Schopenhauer, as coisas não faziam muito sentido. Por enquanto Pedro fazia o que era possível fazer, viver a vida e procurar as perguntas certas.
Pedro estava angustiado com tudo isso. Mas ainda assim estava melhor que muitas pessoas, isso não podia negar. Enquanto ele possuía abrigo e café quentinho sobre a mesa, havia tantos que nem isso possuíam.  Sua maior preocupação era um rumo para dar a vida, menos mal, ao menos não tinha que se preocupar com a sobrevivência, essa parecia garantida naquele momento.


Marco Aurélio

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Diálogos a favor da consciência.

"O cavalheiro faz de tudo para exaltar as boas qualidades de uma pessoa, o homem vulgar faz o contrário.
Confúcio.




Lindsay: - Hey Pedro, as coisas não vão bem.



Pedro: - Eu sei.



Lindsay: E o que faremos?


Pedro - Não sei, mas já sabemos que é preciso fazer algo, estamos a mais de meio caminho andado.


Lindsay: - Mas Pedro, acho que poderia estar fazendo mais.

Pedro: - Bem, hoje já fizemos mais do que fizemos ontem. Vamos Lindsay não se lamente pelo que não fez, mas concentre-se no que ainda podemos fazer.

Pedro: - Somos Jovens, não é hora de balanço. É hora de ação.

Lindsay: - É cara, você tem razão. Somos jovens e temos que agir.

Pedro: - Precisamos questionar, as respostas estão no ar, estão em nós, estão em todo lugar. Só precisamos achá-las, amadurecê-las e botá-las em prática - que é o passo mais difícil.

Lindsay: - Hey Pedro, por que você sempre diz as coisas mais inteligentes?

Pedro: - Acontece que o cara que escreve nossos diálogos é um Professor meio machista. 



Pedro: - Mas calma. Somente o fato de eu responder suas perguntas não me faz mais inteligente. Você formula as perguntas, o que é uma complicada parte do processo até o conhecimento. Sem suas perguntas eu não iria pensar em nada.

Lindsay: - É Pedro, tem razão.

Lindsay: - Somos parte da mesma coisa. Pergunta e Resposta. Capa e Contra-Capa. Dois lados da mesma coisa.

Lindsay: - Hey Pedro, veja só, parece que o cara que escreve nossos diálogos se sentiu mal pelo seu machismo.

Pedro: - É você tem razão Lindsay.




Marco Aurélio

sábado, 7 de janeiro de 2012

Contos e Causos do Índio - Nomi Raimundo


- Lua, não sei cê já ti falei meu nomi. Sô Neri, também Jori, Francisco e ainda Jovino, qui era o nomi di pai, qui foi combatê a invasão e acabo morto junto com os otros, depois disso é qui queimaram as nossa casa com genti dentro.
- Mãe correu comigo até quando pôde, não sei como ela conseguiu tanta força; a coitada tava toda queimada, tive tanta dó dela.
- Depois qui nóis tava em lugar longe do pirigo, ela pediu pra mim ti segui e disapareceu no escuro, é por isso qui converso com você.
- Não deu nem tempo de dizê pra ela qui eu queria qui meu nome foci Raimundo. Já vi tanta genti cê chamada di nomi Raimundo, mais uqui importa mesmo é o caráter, vó falô assim. Um dia, quero falá direito igual o povo da cidade. É difícil, mais vô consegui. Dona Ilda é professora, intao quando a vergonha passá vô pidi pra ela mi ensiná.
A Lua foi encoberta pelas nuvens, Jori Francisco foi para o interior da tubulação de água pluvial, seu abrigo. 
Sonhou o mestiço que estava na escola aprendendo ler e escrever corretamente. Direito negado a tantos.

" Já temos uma fã. Brigadão Gabi " 


Autor: Neusir - Índio



Zé Camarão e sua conclusão

No mesmo terreno baldio que Zé Camarão e sua turma se reunião e bebiam vinho conseguido com uma vaquinha entre eles, Sueli chega, pede um copo de vinho e começa a contar um pouco de sua história de vida:
- A vida é estranha, eu sempre quis ter alguém só pra mim, que me amasse e tudo mais, tipo conto de fadas, penso ser um sonho comum, seja homem ou mulher, pois todos são especiais e desejam alguém especial também.
- O foda é quando as coisas desandam e o que parecia bonito se desfaz como um castelo de areia quando venta; foi o que pensei quando fui traída por aquele filho da puta com quem eu namorava e na mesma noite, revoltada, tinha uma idéia em mente, sair e ficar com qualquer e com quantos quisessem, foi assim que fui para o churrasco do Loko.
 - Chegando lá pronta pra aprontar e ficar com o primeiro que quisesse, não que a vida me prega outra peça, o primeiro a chegar em mim foi o irmão do Loko, o Taleco,  depois disso meus planos de aprontar foram para o brejo, pois não quis ficar com mais ninguém.  Daqui um mês o Taleco e eu vamos morar juntos.
Com o fim do relato de Sueli, Zé Camarão diz:
- É Sueli, você ganhou um namorado e o mundo perdeu uma piranha.

OTÁVIO SCHOEPS   

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Esperança

O verde vivaz de sua face é o que move todos nós, o tom agradável e ameno é o que dá vontade de seguir adiante.
A cor da vida, das árvores e arbustos, seres tranquilos que passam a existência no mesmo local purificando o ar que sujamos. Além desse serviço de utilidade pública ainda emprestaram sua cor a este tão nobre sentimento. Esperança.
Verde esperança não fique somente no retângulo da bandeira, que invada nossos corações e nos dê coragem e forças para lutar mais um ano, mais trezentos e tantos dias, um de cada vez.
Que todo dia seja uma batalha vencida, e que rumemos para algo melhor. O ano que parecia nunca ter fim mostrou os acordes, espero que, com eles, façamos uma boa música.
Vamos lá, com a verde esperança no semblante, o vermelho vivo circulando nas veias e escorrendo pelo chão, se preciso for, que o amarelo do sol ilumine nossos dias e o escuro esfumaçado da noite nos forneça boas reflexões.
Está é a oração que acho válido fazer, para aqueles que como eu não querem ir embora cedo. Que querem viver a vida e achar uma utilidade para ela, como as árvores que oferecem sombra e purificam nosso ar.

Marco Aurélio

domingo, 1 de janeiro de 2012

Contos e Causos do Índio - Gracias


Não é comodo dividir o acanhado espaço com baratas, sapos, grilos, lagartixas e aranhas: vez ainda surge a caninana a procura do esperto camundongo, que não esperou para servir de banquete da mãe cobra e saiu pela outra extremidade da tubulação. Todavia o que mais incomoda são os fogos de artificio. Tanto estrago eles fazem, teme o pequeno índio, temem os animais. O porquê de tanta algazarra, eles não conseguem compreender.
No entanto este não é o momento para lamentação, é a tradição, pois mais uma vez estão comemorando a passagem do ciclo de 365 dias. A terra completou outra volta ao redor do sol e, apesar de tudo, temos muito a agradecer.
É hora de colher o que de bom plantamos e repensar para aprender com os erros e melhorar o que não ficou bem feito.
Coisas tristes aconteceram, não podemos negar, mas a vida é mesmo assim: cheia de contrastes.
Estou curtindo muito a participação ao lado da equipe do Lâminas, alguns pegam pesado " o Neri Surgiu para equilibrar " conforme comentou o Alex.
Eis o contraste das opiniões.
- Molecada, ocêis tem que agradece o que existe de bom e para de reclamá: lá no mato a vida não é fácil, o vô cacique Jori e o mateiro Francisco foram atocaiados e mortos purque queriam fazê as coisa certa, contô Mãeberia. A vida é mesmo assim.
Felizmente temos a tão combatida liberdade de expressão, garantinda pela nossa constituição. Se possível for temos que denunciar sim, as injustiças, pois enquanto dormem os excluídos, agem os grandalhões.
Porém, como já foi mencionado, temos muito que agradecer, neste ano que se finda. Com certeza o próximo será melhor.
Tapiraí, Sorocaba, Votorantim, Ibiúna, Salto de Pirapora, Araçoiaba, São M.Arcanjo, Pilar do Sul, Piedade, Boituva, Porto Feliz, São Roque, Itu, Salto, Juquiá, Registro, Iguape, Ilha Comprida, Morro de Ipanema, Lua, Nuvens, Estrelas, Sol, Mar, Estado de São Paulo, o Brasil Inteiro, e até o nosso querido Planeta Azul.


Obrigado
Arigatô

Gracias Hermanos!

Autor: Neusir - Índio