domingo, 30 de setembro de 2012

O artista da capa azul



Debruçado no chão chorando sobre um caderno velho, um homem que trajava uma pesada capa azul protegendo-lhe do frio, se via sem o que fazer com as inúmeras folhas brancas que o constituíam. Como num pesadelo intenso, ele cai num mundo sem fundo, ele se afoga nas próprias dores. Faz muito frio lá fora, lá dentro, apenas na capa azul é que encontrava o verdadeiro fogo, nela, crepitavam as chamas de uma fogueira perpétua. Apesar de toda desgraça, ele ainda era um cara de sorte. Apesar do cômodo vazio num apartamento muito frio, de uma alimentação a base apenas de pão e água, seus lábios machucados com o inverno, apesar de tudo, ele ainda era um cara de sorte.
  Abandonou o caderno empoeirado, agora desenhava usando os dedos gordos e roliços no chão, os molhava na tinta amarela, coloria o seu redor com um sol muito forte, por fim, dava contraste com um laranja. Era um enorme sol num céu âmbar, e do lado de fora, no céu retangular da janela, fulgura outro no meio de nuvens muito sujas. Queria tanto que o seu é que fosse real! Que saltasse do piso subitamente e se plantasse além do vidro da janela, não haveria nuvem alguma. Sonhava como uma criança, sem vergonha de seus devaneios pueris, se deliciava com a ternura que era sonhar.
Talvez, como criara o sol mais brilhante de sua vida, como o fizera reinar no céu como se fosse real, pudesse trazer ainda mais para dentro do quarto sem cor. Molhou novamente os dedos, sujou-os de verde, e do chão transbordou a natureza divina do mundo, tudo em poucos segundos, como se ele fosse Deus, ordenando à terra que germinassem as plantas. A grama não podia ser mais verde, ainda misturada com o laranja e o amarelo do sol, e da sujeira ele trouxe flores e frutos, saborosas mangas, bananas, mamões. Os dedos mergulhados na tinta, a vida mergulhada na graça da imaginação, ah, como o mundo belamente se transformava! Por baixo da capa a fogueira brilhava contente, por baixo dos sonhos se estendia a falsa realidade, ele deixara de cair no pesadelo.
Derramou no chão tudo que podia, o quarto era pequeno, mas cabia a imensidão de seu mundo. Ainda restavam-lhe as paredes úmidas, chovera naquela noite, então do forro acabaram vazando lágrimas poluídas das nuvens, mesmo assim, se ainda continha tinta nos potes cinzentos, não havia mais nada para impedir o artista de expressar seus sonhos. Assim, do cimento nasceram estrelas, como se passasse além do sol e mergulhasse no espaço azul escuro, dali, brilhavam os corpos celestes com uma incrível felicidade. Seus dedos dançaram na primeira parede, debilmente ele correu as mãos por sua extremidade. Na outra, o branco da lua era enorme, parecia que poderia entrar em suas crateras, apenas com as pontas dos dedos ele criou os detalhes, minuciosos, trouxe tanta realidade que às vezes tudo parecia deixar de ser tão infantil.
O artista continua em seu rumo agitado, ávido em terminar ligeiro tudo que planejara em sua mente conturbada. Deixava de ser tão solitário para cumprir os deveres que ele mesmo impunha. As horas se passavam, mas furtivamente os sonhos caíam de seus dedos, brotavam em todos os lugares, as horas eram como segundos quando o mundo começava a ser criado. Agora, ele suava, mesmo com o clima invernal, ao andar para lá e para cá, exclamar muitas vezes seu encanto, agachar e voltar ereto para alcançar os pontos mais altos das paredes, ao fazer tudo e mais um pouco, exigia de seu corpo a energia que não tinha. O suor pingava até a capa azul, arrastando pelo chão ainda molhado com a tinta, apagando tudo que criara com magia, assim como os sapatos de couro o faziam, ele destruía o que ele mesmo havia feito. Só não podia ver.
Ao fim das horas, as paredes estavam completas, o universo virava vida, ele se tornara o astronauta azul que resgatara a cor em todos os mundos, só sobravam as manchas de tinta em seus potes e na camisa xadrez que vestia por baixo da capa. Sorriu, satisfeito e ofegante. Bateu as mãos nas laterais de sua calça jeans, também suja pelo entusiasmo do homem. Subitamente olhou para o chão. Tudo que criara abaixo dos pés estava arruinado, se via pisando novamente no nada, caindo sem sentido no meio de um pesadelo louco.
Sentou-se aonde havia frutas frescas, aonde havia grama, mas lá, tudo se unira numa enorme mancha castanha por cima do âmbar. Como se nada pudesse piorar, a chuva havia novamente recomeçado, batendo no forro com selvageria, a tempestade comum de fim de tarde. Oh não! As lágrimas novamente vazavam das extremidades do teto, eram lágrimas que se tingiam de azul escuro, da alvura da lua, da cor dos planetas misteriosos espalhados por todo o lugar, caíam ao chão junto do rapaz.
Ele voltara a ser o homem miserável de sempre, agora, nem as tintas possuía mais, apenas o caderno jogado no canto do cômodo, que novamente se cobriria de lágrimas provocadas pela solidão.

Gabriela Godinho

domingo, 16 de setembro de 2012

A Doutrina da Besta – Segundo capítulo


Um homem, uma besta, um salvador ou uma promessa?

 Seu olhar estudou a calçada antes de adentrar no carro, que parecia todo mergulhado em negrume, sombrio e que trazia frieza em cada lugar que percorria. Naquele momento, na verdade, não tinha lugar algum para ir, nem sabia como perder-se pelos labirintos de concreto que constituíam a cidade, nada mais tinha graça, nem um gesto, um sentimento, uma via, um lugar, as coisas perderam os sentimentos havia muito tempo, removendo, talvez perpetuamente, o encanto que as coisas simples da vida traziam. Isso estava claro em seus monstruosos olhos, que carregavam mais do que dores, ambições ou verdades, carregavam as memórias, que continuamente moldavam com precisão tudo que se dizia por Álvaro Bozais. Ainda sim, quem era ele, afinal? Um homem, uma besta, um salvador ou uma promessa? E quem saberia responder? “Ninguém sabe responder”, diria algum homem temeroso até mesmo para olhar a besta por alguns segundos, diria uma mãe depressiva e um pai ausente. “Ninguém”, uma namorada estranha, um amigo da onça.
Lentamente a vida já nem fazia sentido conforme só houvesse interrogações pairando pelo ar, andando com a fumaça, dançando um tango com a poluição. Certamente já não tinha mais nada para se fazer naquele momento a não ser observar essa dança. O sol alcançava o auge do meio-dia, as nuvens começavam a engordar e escurecer lentamente, tornando-se sujas de cinza, os raios de luz que escapavam por entre elas, com seu fulgor, banhavam as cabeças que passavam pelas ruas, voltando para suas casas justamente do jeito em que Bozais descrevia. Cruzando os braços e sentando em seus sofás confortáveis, crendo talvez, que seus corpos realmente poderiam se estatelar no concreto frio. E mesmo com o temor, com suas mentes de repente tomadas por diversos devaneios, não havia o que ser feito senão esperar o desconhecido. E que outro desconhecido resolva, mas não eles.
Contudo, esse desconhecido pretendia fazer o mesmo ao ligar seu carro e voltar para o moderno apartamento que ganhara do pai, próximo ao centro da cidade. Talvez ele preferisse agora tê-lo comprado com seu próprio dinheiro, seu pai lhe dava tudo que julgava preciso, isto é, móveis, roupas caras, celulares, computadores e o que mais ele apontava e dizia “eu quero”. Amor, sorrisos e atenção não contavam. Tinha tudo para se tornar mais um mesquinho filho de papai, mas talvez sua personalidade fora além do que os pais construíam. Tornara-se um homem diferente, a besta, que friamente julgava não precisar de todas aquelas besteiras, e besteiras incluíam qualquer membro da família, qualquer laço de amor ou amizade. A memória profanada com o tempo, mas ainda sim clara, lembrava-o de tudo que fora, tudo que deveria ser e o que deixar pra trás.
Para quem vira Bozais, era difícil imaginá-lo criança, ainda mais do jeito que ele fora.

Sabe se lá quantos anos atrás... 

Um homem esguio se joga na velha poltrona, cansado de mais um dia de trabalho, deixava que os mesmos devaneios se despertassem da imaginação e passassem a correr pela sua mente, no lugar dos ecos perturbadores das últimas oito horas. Assim, ele olha o céu do começo de noite, o fim de tarde já vira das janelas do trabalho, quando teve o ímpeto de distrair-se de sua tarefa por alguns segundos, ele pôde ver o céu ser engolido por um manto de negrume, e naquele momento na sala de casa, ele via que várias estrelas foram salpicadas pelo manto, tornando-o menos macabro. A lua, por sua vez, derretia sua luz pálida pelo mundo, caía atravessando a porta da varanda e banhava um pequeno menino sentado no chão atrás da poltrona, abraçando seus joelhos, a cabeça é baixa, mas os olhos se levantam para contemplar os cabelos desgrenhados e quase totalmente grisalhos do pai, ele vê aquela cena como se fosse belíssima, como se fosse a primeira vez em que ele o via ali, parado, resmungando ou então quieto demais com seus próprios pensamentos que ninguém podia entender. Contudo, o filho tentava. Naquela sua mente pequena e confusa, ele se punha a imaginar o que se passava pela cabeça do velho.
Logo, o homem tirava um maço de cigarros e um isqueiro escarlate do bolso da camisa de listras, o fogo que acendera iluminava os pequenos olhos negros do menino, tornando-os levemente rubros. O filho observava a fumaça saindo por trás da cabeça de seu pai, que desconhecia sua presença logo ali. Era uma cena comum de uma sexta à noite, quando todos estavam cansados do dia corriqueiro e procuravam um refúgio para que tudo que acontecera pela semana fosse apagado em alguns sagrados minutos, que às vezes se tornavam horas e essas horas chegavam até uma vaga madrugada. E o pequeno continuaria ali, firme, sem emitir nem sequer o som de seu bocejo, evitando tossir ou espirrar, embora estivesse ficando doente e começasse a ser inevitável. Os pés descalços tocavam o piso frio da casa, mas cobertos pelo luar, ele fingia que o aquecia como se fossem raios solares, evitava as vertigens do sono até a hora que pode. Queria muito poder entender o homem que já adormecia com o cigarro ainda na mão direita, caída pelo braço do sofá. Queria muito saber dos seus sonhos e entender seus segredos, acima de tudo, queria que ele fosse mais seu pai do que costumava ser.
Mas aos poucos, o corpinho frágil e magro começa a tombar para o lado, mole e cansado de lutar para postar-se na posição em que estava, pedia desculpas a si mesmo, ao papai, mas tinha que deixar pra outro dia entendê-lo. De repente, uma mão fina e delicada tocara-o no ombro, segurou-o com calma e o guiou até a cama. Deitou-se de má vontade e a mãe saiu do quarto, deixando apenas que um pequeno feixe de luz adentrasse pela porta, assim, ele não sentiria tanto medo da solidão. Não tinha mais sono, então, nada restava senão observar os fantasmas imaginários movendo as cortinas e uivando nas janelas, os monstros debaixo da cama chamando seu nome e os enormes cobertores azuis protegendo-o de qualquer perigo que impregnava em seu amplo quarto. Ali, a luz da lua era impedida pelas cortinas pesadas, mas tinha certeza que na sala, aquele homem que tanto apreciava, recebia a graça de ser coberto por ela.

Voltando a sabe se lá quantos anos depois...

Finalmente chegava no estacionamento do condomínio, ocupando uma das últimas vagas, já que era raro os moradores saírem em pleno domingo, seus carros caríssimos descansavam. Possuíam horários previsíveis, dias vagos, mas o que se escondia por trás de cada porta talvez não fosse lá tão vago, era inimaginável. Embora todos os funcionários soubessem exatamente quando a srta. Souza descia para o café ou ia as compras, quando o Sr. e a Sra. Silva iam para o trabalho, até mesmo quando Bozais saía para almoçar em algum restaurante. Desconheciam o que tanto faziam quando voltavam, o que tanto pensavam após dizer-lhes um surpreso “bom dia” de resposta, tipicamente ácido e sem importância, quase que automático. Só não precisavam estudá-los e arriscar um “tudo bem?”, era mais fácil fazer seu trabalho quietos. E assim os dias passavam, as semanas corriam e os domingos duravam, consumidos pelo cansaço dos moradores. 
No fim do estreito corredor, uma das branquíssimas portas dava acesso para o apartamento de Álvaro, o número 53 era bem visto, sendo de um dourado que reluzia com as luzes ardidas tomando conta do âmbito. Além de ser habitado por um futuro homem importante para a nação. Poucos podiam dizer que estiveram lá antes, ele raramente recebia visitas, como já era de se esperar, a solidão era a única que sempre estivera ali por vontade de Álvaro e sempre seria bem vinda em qualquer dia, qualquer hora. Conforme ele aprendia a conviver com ela, a engoli-la à força durante tantos anos, começava a querê-la como quer-se alguém que já se fora, como quer-se a mais linda mulher. Sedento, ele procurava as vias mais vazias, as esquinas que quase ninguém dobra e os lugares que apenas solitários freqüentam. E vivia completamente bem de sua maneira, e continuaria vivendo por algum tempo, curto, mas tranqüilo e satisfatório.
Assim que adentrou, pôde sentir-se aliviado ao encontrá-la em todo o lugar, reinando com o silêncio, a solidão era mais que sedutora, era a única maneira de fazê-lo contente com alguma coisa. O abraçava quando ele largava seu corpo grande e desajeitado pela poltrona, apoiava a cabeça numa almofada qualquer, sentindo-se talvez, melhor que qualquer pessoa no mundo. Deixava no chão liso de madeira, sua maleta jogada sem pensar, Bozais era mais desleixado do que aparentava ser, em seus ternos e blazers mais bonitos, de sapatos engraxados por uma nova maquininha que comprara, por trás do homem bem cuidado, havia um outro que não ligava em deixar o que fosse no chão recém-encerado pela empregada. Esta vinha duas vezes por semana expulsar a solidão, maior paixão de Álvaro, e era obrigada a tirar cada meia que estivesse em lugares inusitados. Mas, aliás, ele a pagava mais do que bem. Não fazia mais que a obrigação, pensava quando levantava friamente seu olhar de um livro qualquer, para observá-la resmungando típicos impropérios.
Conforme os segundos passavam, a velha paisagem da janela se movia, os passos confusos de Álvaro perambulavam durante algum tempo, no fim, ao lado de seus pés jaziam uma taça e uma garrafa de vinho, seu corpo mole novamente jogado na poltrona. Via com uma incrível calmaria a luz laranja do sol de fim de tarde se esvaindo do quadro do corredor, esperando a noite como quem espera o dia depois de não conseguir mais dormir. Quando se viu apoderado da escuridão, esperando a lua ganhar mais altitude ao céu, não hesitou em tirar um maço de cigarros do bolso e um isqueiro do outro. Encheu a taça com seu vinho até quase passar a borda, deixava o liquido descer demasiadamente em sua garganta para tragar o cigarro entre seus longos dedos.
No mais tardar, a lua começava a cobrir sua imagem, vinda com sua luz atravessando os vidros da grande janela, a fumaça saindo por trás da poltrona, e quem sabe, o fantasma de um pequeno magricela observava-o admirado, que surgira da penumbra e se acomodara aonde encontrava o fraco luar aquecendo seu corpo pueril. 

Gabriela Godinho

PAÍS MALDITO

Como diz o adágio popular Deus é brasileiro,
Mas o Brasil é um país que exala mau cheiro,
Traz à luz cenas que parecem decalcadas do inferno
Onde o povo sofrido é destinado ao suplício eterno.

A droga se tornou uma instituição legal
Pois rende fortunas aos que difundem este mal,
A mentira é a exceção que se tornou regra absoluta
Usada pelos estadistas como se fora uma prostituta.

A violência desenfreada corrói a humana dignidade
Como um vírus inoculado para destruir a sociedade
Na simbiose entre empresários, banqueiros e políticos
Todos corruptos na obtenção de proveitos ilícitos.

O que aparenta ser apenas um prolixo devaneio
O Brasil carrega uma grande verdade como seu esteio:
Malditos governantes sequazes oriundos de força maligna
Não escutam o clamor do povo que almeja uma vida digna.

NELSON BARBOSA FILHO

sábado, 15 de setembro de 2012

Contradigo


Eu indico, me contradigo
Antissocial, antiquado  
Não concordo nem comigo
Anticorpos, antidepressivos

Não enche meu amigo
De todo ódio contido
Um dia eu consigo
Ser absolvido

O presente antigo
            Do submundo iludido
            O futuro, mal digo
            Do mundo corrompido
             
            Foi atingido, me vingo
            Ser ofendido
            Foi erguido, te sigo
            Ser perdido

             OTÁVIO SCHOEPS

Usuários de Droga / Desigualdade



Este vídeo é um projeto piloto, e tem como objetivo provocar a reflexão no que cerne ao diferente tratamento dado aos usuários de drogas, de acordo com a função social que cumpre e a hierarquia que ocupam na sociedade. Também é abordada a questão do "Estado de Bem Estar Social" e o que em TEORIA é a razão da existência do Estado.


Obrigado a todos que assistirem, comentem, critiquem, deem sugestões. Abraço =D



Marco Aurélio

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Faz frio debaixo dos cobertores, amor.


Minha vontade de voar é visível pra quem me enxerga com outros olhos. Com os mesmos olhos de quem me cortou as asas. Estar preso no chão é mais tortuoso do que pensei. Mas me acostumo. Sempre me acostumei, não foi? Por minha sede de viver ser enorme. Os velhos amores não morreram, só viraram lembranças. Por mais orgulhoso que seja, reconheço que tirei lições deles. Lições que agora te ensino, Beija-flor. Às vezes eles voltam, como ventos fortes batendo nas janelas. Aprendi que mantê-las fechadas evita dores…

Pra mim toda a poesia tem um lado sentimental, tem um pouco da dor-de-cotovelo, das lamentações. A minha poesia é formada disso. É engraçado, porque há alguns anos, eu me via sentado na rua, fazendo a minha poesia de calçada. Eu desejava ser assim, largado. Mas meu coração não quer mais isso, meu bem. Bastou ele te conhecer para abandonar toda a vida vagabunda que planejei…

Não mentirei pra você. Demorei a me acostumar com a dor que os teus espinhos causam quando entram em minha pele. Eu, que sempre fui um puta covarde, me doía sem reparar na tua dor intensa. O calor da tua pele é incrível, meu bem. É de queimar a minha. E o cheiro de mar do teu cabelo está por toda parte. Agora sei o porquê de você sumir às vezes. Eu não presto amor. Nunca prestei. Eu já matei algumas vezes, mas me mataram muito mais…

Hoje eu sei que estou inteiro e consciente, mas amanhã mesmo posso estar dilacerado. Eu mudo como as estações. Aliás, coisa que nunca entendi. Nunca vi a diferença que talvez exista entre as estações, pois quando você estava presente, o frio não era incomodo algum. Mas sem você tudo é inverno. As coisas realmente mudaram por aqui… E pra pior. E é por isso que eu digo que faz frio lá fora. Faz frio debaixo dos cobertores, amor.

- Isabella Gomes

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Em Memória do 11 de Setembro

 
Excelente documentário. Imperdível.
 
 
 
Postado por: Marco Aurélio

domingo, 9 de setembro de 2012

Fundador




































Salve Salve leitores do Blog Lâminas Verbais. Faz muito tempo que não escrevo um texto assim - sem ser em forma de crônica. Estou me aventurando neste novo-velho estilo a pedidos de uma pessoa do público em especial ( espero que esteja atendendo as expectativas ). Agora chega de rodeios e vamos ao que interessa.


Sorocaba é uma cidade grande, quase uma metrópole, porém temos ainda a mentalidade de uma cidade pequena dominada por coronéis. Basta ver a Estátua que figura em frente ao marco inicial da cidade para perceber como funcionam as coisas por aqui. 
Homem, Branco, Proprietário de Terras, Católico e armado até os dentes; essa é a cara do nosso famigerado fundador. E essa é a cara da atrapalhada elite Sorocabana.
Por estas bandas tudo funciona na base dos "esquemões" acertados no fio de bigode, na venda de cargos e influências, no jogo de bastidores entre os donos do poder. O Sorocabano é famoso não por sua boa educação no trânsito, mas sim como barbeiro de carteira assinada. 
Além disso quando a cidade aparece no mais assistido jornal do país não é por coisa boa, mas sim pelo escândalo do CHS. 

Cidade tropeira é o escambau. Sorocaba é uma cidade de agricultores, depois operários que movimentaram teares e assentaram os dormentes da ferrovia, Sorocaba é nossa, é do povão.

Manchester Paulista? Não não senhor!!! Sorocaba é a Moscou Paulista. Sorocaba é a cidade onde valorosos trabalhadores vivem sobre a péssima e atrapalhada administração de uma elite que acha que é tropeira, e que no entanto não é digna nem de ser comparada as mulas - injustiça ofender o pobre animal.

ABRE O OLHO SOROCABA!!!!!!!


Marco Aurélio

Fiel Companheiro / Espetáculo




Um homem repousa sobre a calçada, vestes mal ajeitadas sobre seu corpo, nem o sol quente tampouco o chão duro parecem atrapalhar o seu sono.
Ao seu lado na vigília permanece o fiel companheiro, companheiro que não se importa com classe social, condição financeira, credo ou ideal, apenas com a companhia.



Marco Aurélio



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mc Café



















O relógio de pulso anuncia: 2h e 57min da madrugada. O palhaço Gleizzon resolve fazer uma parada no Mc Donalds para tomar um café americano.
Há tempos atrás se incomodava até mesmo em passar na frente dessa famigerada lanchonete, hoje não ligaria de ser fotografado lá dentro. Tudo faz parte do sistema, está em todo lugar, ele não poderia fugir disso.
Gleizzon tem uma visão realista das coisas, não vê luz no final do túnel, embora tenha uma tímida esperança de encontrá-la um dia. Por enquanto ele sobrevive no mundo que repudia.
O jovem palhaço gostava de frequentar esse lugar nas avançadas horas da madrugada. Era nesse ambiente que via os tipos mais interessantes. Todos fazendo sua refeição noturna, após se esbaldarem em festas que mergulharam madrugada a dentro.
Os homens naquela noite seguiam um engraçado padrão. Alguns aparentavam meia idade, usavam, entretanto, roupas de jovens, sempre de grife; calça jeans, sapatênis e camisa pólo. Outros eram bem jovens, vestiam roupas da última moda.
As mulheres todas usavam vestidos de festa, extremamente curtos. Algumas, traziam nos pés ainda as sandálias de salto muito alto, outras já haviam sido vencidas pelo desconforto e estavam descalças ou de chinelos, porém ostentavam as marcas e os pequenos cortes causados pelas tiras do calçado que usaram a noite toda.
As conversas eram as piores possíveis, no entanto Gleizzon definitivamente não se incomodava, ao invés disso achava graça naqueles papos tão fúteis. As pessoas que Gleizzon mais admirava naquele espaço eram realmente as que faziam o atendimento. Pareciam exaustas, mas sempre conseguiam sorrir, e nem ao menos deixavam transparecer a miséria que se escondia naquele ato. Trabalhadores, admiráveis, exercendo sua função com maestria para garantir o ganha pão e encher os bolsos de um canalha que lucra as custas do trabalho alheio.

Gleizzon bebe seu café e reflete sobre sua condição, pega o jornal e vira as páginas. Mensalão, eleições, copa do mundo, as mesmas notícias de sempre. No entanto, não muda nada. Tudo parece estar como sempre esteve. Um ou outro abalo aqui, uma trinca e uma rachadura ali, mas o sistema continua de pé.
A opressão segue a passos largos, e até mesmo os oprimidos, quando podem, se tornam opressores. Basta observar uns minutos para notar um ou outro cliente da madrugada tratar o individuo que está do outro lado do balcão como um verme. Até mesmo o gerente e o supervisor, que já foram como um daqueles jovens, reproduzem a opressão que aprenderam após sofrerem-na em suas peles.

Até mesmo ele já reproduziu a opressão, e caso não se policie pode vez ou outra flagrar a si mesmo cometendo este ato tão vil e mesquinho. Certa vez ouviu sobre um cara chamado Focault, que que dizia algo mais ou menos assim; "a opressão mantem-se por que está instalada em todos os poros da sociedade e da vida cotidiana".
Pensar nisso arrepiava-lhe a espinha. É neste momento que ele termina seu café, ajeita a jaqueta jeans sobre os ombros e saí em direção ao estacionamento.Chegando lá encontra algumas pessoas ouvindo musicas que expressam o mais genuíno lixo da industria cultural, perto daquilo até mesmo o tosco álbum da "Malhação de 2001" parecia ser Old School.
Ele gira a chave no contato e segue para casa, onde vai beber alguma coisa alcoólica e revirar na cama até conseguir dormir.


Marco Aurélio

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Professor Pedro - Cerveja Gelada






O Professor Pedro sai de seu trabalho. Cansado, exausto, dirige até sua casa. Voltou a usar o carro, estava com muitas aulas e de certa forma isso facilitava.
Logo que chega e tranca as portas, abre a geladeira a procura de uma cerveja. Seus olhos percorrem, apreensivos, as prateleiras da velha geladeira bagunçada. Após uma rápida busca mal sucedida ele começa a considerar a possibilidade de sua mãe tê-la bebido.
Ele desiste por uns instantes, vai até o quarto, mexe um pouco no computador, conversa com algumas pessoas interessantes e retorna a procura. Agora estava mais decidido.

Pedro tinha certeza de que havia uma cerveja na geladeira, ele procura, procura e procura... Quando já estava se conformando avista uma bela latinha verde entre um pote de maionese e uma cebola usada. Nossa que alegria, aquela noite terminaria feliz.
Depois de uma dia exaustivo de trabalho, exatamente uma primeira segunda de setembro, nada mais merecido que uma cerveja gelada para alegrar.
Pedro bebe enternecido, recobra suas forças, suas energias. Pensa e reflete uns instantes sobre a vida, mergulha em seus pensamentos...



Marco Aurélio