sábado, 31 de dezembro de 2011

Quem sabe?


Quem sabe um dia as bandeiras dos quintais não limitem territórios e sim apenas indique uma região do planeta
Quem sabe um dia a única organização militar seja a do corpo de bombeiros
Quem sabe um dia haja união dos povos, sabendo que união não é fusão
Quem sabe um dia os dias não sejam penosos e nem vendidos baratos

Quem é que sabe?
Eu não sei, apenas quero
Quem sabe como?
Também não sei, são tantas alternativas...

Que os muros caiam
Que as máscaras caiam
Que a vida seja bela
Que a morte seja bela

Que o poder seja ridicularizado
Que a força venha do verbo
Que o dinheiro seja um meio
Que a beleza esteja ao nosso redor

OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Milagre


A tempestade na Madrugada transformou o abrigo do pequeno índio em mar de lama e entulhos. Que sem piedade, o arrastaram para bem longe dali.
- Lua, não me deixe agora.
O bom nadador lutava bravamente contra a correnteza.
- Bem qui Maria falô prá num acredita dimais no tal di natal. Mais eu num quero que seja assim.
Lutou e chorou no meio da enxurrada o desabrigado.
Foram tantas lágrimas...
Lágrimas que se misturavam a chuva.
Chuva que levava a sujeira.
Sujeira que se transformava em barro.
Barro que virou lama.
Lama que reforçou a fé.
Fé que moveu a montanha.
Montanha que se formou sobre o capricho.
Capricho sobre o lixo.
Lixo que quase destruiu a natureza.
Natureza da renovação.
Renovação, graças à erosão.
Erosão que faz renascer a vida.
Vida, por que existe milagre.
Milagre do Natal.
Natal que apesar de tudo ainda existe, a tempestade passou... A manhã de sol brindou o flagelado; o arco-íris ilustrou a estiagem.
O índio abriu os olhos sem saber se devia chorar ou sorrir, agradeceu então:
- Brigado Lua, eu sempre acreditei!
A chuva lavou a sujeira da cidade grande que encobria o tesouro.
Vasta vegetação entre bambus e outras, matéria prima que o menino precisava para preservar a cultura de seu povo. Ele, o único sobrevivente.
Valiosas peças seriam encontradas, futuramente, no velho barracão do Anjo Tropeiro.

Autor: Neusir – Índio ( 27/12/11 )

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Contos e Causos do Índio - Noite de Natal


Meia-noite, luzes no céu. O menino olhou mas a lua não estava lá. Depois vieram os "estrondos" dos fogos artificiais, o menino voltou para seu abrigo.
A rainha prateada, tomou a forma humana e desceu a terra.
- Lá no alto ocê é tão piquena!
Com mais de três metros de altura a deusa iluminada apresentou-se a boca do tubo.
- Lua, me leva, tenho tanto medo di ficá sozinho aqui no cano.
Estendeu as mãos à criança, a fada gigante.
- Pensei que tava sonhando a Maria falô qui o natal podi sê triste.
E a lua, em forma de mulher, com o menino ao colo, ganhou espaço até chegar a sua morada: Enorme vale circundado por inúmeras cascatas, onde milhões de andorinhas se banhavam, porém, a forma feminina tornou-se lua outra vez. Sem braços, ou colo para proteger o garoto. Ele caiu então e foi engolido pela garganta da correnteza. 
- Lua, não fais isso cumigo, não! 
Jori Francisco, despertava de um belo sonho na noite de natal...

Autor: Neusir - Índio.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Guerra Fria Natalina



Um dia dentre outros 364 pessoas escolheram para cultuar uma felicidade tão artificial quanto seu modo de vida. Tão hipócritas vão celebrar o nascimento do Papai Noel, porém juram ser o de Jesus. Isso mesmo, aquele que fala de humildade (Dai a Cézar o que é de Cézar...), e o que fazem? Alavancam a economia e impulsionam o capital fazendo empréstimos, mais e mais contas, presenteando uns aos outros, (consumir, consumir e consumir ) num ato chantagista, falso, apelativo, arrogante, degradante, egoísta, mascarado de altruísmo, solidariedade, benevolência que mostra apenas a imensa antagonia de classes e que busca apenas sua auto-afirmação social incapaz de ver o mundo além umbigo. Arg! Essa caridade burguesa/cristã...
Esse dia é tão tenso que mais parece uma guerra fria.
O espírito (de porco) natalino deveria ser substituído por um ato consciente, racional e lúcido de que nossa existência se resume ao presente (presente temporal não o material) e assim sendo devemos nos empenhar dia após dia para melhorarmos enquanto indivíduos e ajudar mutuamente independente do dia. Nos despir das amarras estereotipadas de uma sociedade decadente e hipócrita para respeitar as peculiaridades de cada um.
Feliz Dia de Hoje.

Renan Vieira Bonassa

O cerrar das trancas e o apagar das luzes.


Mais um ciclo se encerra,
é a tranca do cadeado fechando-se em fogos.
Pelo velho centro vejo luzes, e multidões,
multidões sem destino certo, buscando o placebo para a solidão.
O ciclo se encerra como a folha seca que cai,
a árvore do tempo se despe de suas velhas folhas,
e nós festejamos o início de uma nova.


 O ano desta vez parece ter sido diferente,
cancros e perturbações brotaram por todos os lados.
Uma pequena dose mundial de razão abriu os olhos de toda essa gente.
O ano que nunca termina, um ano extremamente agitado,
cancros e perturbações brotaram por todos os lados.
E a nós só resta esperar que por cima das cinzas,
dos desabamentos, dos lamentos e das cismas brote...
ALGO NOVO E MELHOR.

 Marco Aurélio

Foto: Carol Mayfair

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Contos e Causos do Índio - Lua, Maria e Neri.



"- Companheira, da cor do ouro. A cidade tá tão enfeitada, tem até cantoria lá na istação.
- É o natal, qui tá chegando, assim iscutei dizê, mais Maria falô qui é melhor si precavê. Pois nem tudo deve sê só alegria. Da mesma maneira qui ele chega, logo vai, por que são as mesma palavra repitida todo ano, junto com presente e amigo secreto.
- É bom, normal e natural, mais a Maria falô da verdadeira razão desse tal de Natal: é aquele qui começa e nunca mais termina. Ela explicô qui é o amor dentro do coração sem inveja i traição.
- Mais ainda tem jeito puquê existe a isperança que as boa semente plantada em terras ferteis germinarão, intão u qui já é bom vai ficá ainda melhor. E o mundo inteiro, di mãos dada, vai orá a mesma oração.
- Lá vai Maria vende seus pano di prato.
- Boa noite Maria.
- Até amanhã Lua." ( Neri Jori )
Neri entrou na manilha, e sonhou... 

Texto dedicado a Lilian Rose Lemos - Jornal Ipanema.

Autor: Neusir - Índio.





quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Mensagem de natal do lâminas verbais


Paródia

Hoje é mais um dia, de um velho tempo que se perpetuou
Todos os nossos sonhos serão seus pesadelos, o consumo já começou
Hoje a dívida é sua, hoje a dívida é nossa, é de quem pagar
A dívida é sua, a dívida é nossa, é de quem pagar

OTÁVIO SCHOEPS

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Professor Pedro / Natal / Reflexões



A TV do quarto está ligada e as pálpebras se fechando com maior intensidade. Eram já 2h da manhã na casa do Professor Pedro, e nada do sono aparecer para tirá-lo da miséria em que se encontrava.
Na TV aqueles comerciais clássicos de final de ano, no outro canal aquele clássica mensagem de verdadeiro espirito de natal. Ora, ele sabia que somente mesmo o maior dos espíritos de porco seria capaz de pensar numa coisa dessas.
Verdadeiro Espirito de Natal? Do que é que aquela maldita máquina estava falando? O Professor Pedro sabe, aliás ele sempre soube que jamais houve essa história de espirito de Natal. O Natal nasceu vendido e capitalista.
Tudo bem, alguém poderia vir falar do Bispo Turco chamado Nicolau, mas não era disso que o Professor Pedro falava. Mas sim, que quando o natal ganhou a grande massa ele já tinha sido maculado com a marca do consumo. Comprem, Comprem e Comprem, era isso. Exploração desavergonhada, pura e seca.

O Tempo mudou, o homem vive pelo tempo do consumo, tempo do trabalho, do consumo e do trabalho de novo. E agora, naquele fatídico dia 20 de dezembro estava a menos de cinco dias de distância da mais consumista de todas as datas. O Natal.
O Jovem professor repudia o natal, e sente tristeza ao ver tantas pessoas com tanta demagogia. É fácil resolver o ódio e a discórdia de um ano todo com um cínico presente no final do ano. É óbvio que as pessoas se odeiam, o sistema propicia a divisão, é óbvio que todo mundo compete. E no final, até mesmo a conciliação é um espetáculo, é uma grande festa, uma palhaçada.
O Homem não vive mais por si, mas sim é representado. Como Debord já dizia. Tudo que fazemos é uma imitação da vida de um que interpreta a nossa por nós mesmos.


O Professor Pedro jamais se sentiria em casa, em família ou coisa assim. Por que o espectador não se sente em casa em lugar algum, o espetáculo ronda todos os lugares. Mas fazer o que, era isso que ele tinha naquele momento. Então fechou os olhos bem firme, desligou a maldita televisão que ele sequer sabia por que resolvera ligar e dormiu - muitas horas depois de rolar de um lado para o outro, mas dormiu.


Marco Aurélio

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

OS EXCLUÍDOS DA HISTÓRIA: OPERÁRIOS, MULHERES E PRISIONEIROS.



De cara, instigante. Esse livro é na verdade uma seleção de textos de Michelle Perrot,doutora em história francesa,que dedicou sua vida acadêmica à pesquisas relacionadas ao mundo popular da França do século XIX,e como cita a Introdução "Deixando de lado mitos, representações ideológicas e posições partidárias,Michelle se mistura em suas pesquisas com as "bases",a massa dos obscuros desde sempre excluídos da história."

Pois bem, o livro é dividido em três partes: Na primeira, OPERÁRIOS, podemos notar amplas informações da vida do proletariado da primeira metade do século XIX, da vida das mulheres nas fábricas, da visão dos chefes vistos pelos operários - "opressores, déspotas e tiranos" ou "senhores barrigudos e pândegos", das lutas, da relação da família, enfim, da construção da classe operária francesa.

Na segunda parte, MULHERES, um tema ambíguo e atual, como a própria autora diz.Se não relatadas como "sedutoras, rainhas da noite, opostas à razão lúcida e traiçoeira", também são as mulheres que "puxam os fiozinhos dos bastidores, enquanto os pobres homens, como marionetes, mexem-se na cena pública".Os textos vêm a discutir a posição social da mulher, o poder, da rebeldia e questionamentos que originaram práticas feministas e sindicalistas, da dona de casa à assalariada.

E na ultima parte, PRISIONEIROS, apresenta reflexões quanto ao sistema penitenciário - "feita para punir, mas também para reintegrar os delinqüentes à sociedade, "corrigir os costumes dos detentos, a fim de que seu retorno à liberdade não seja uma desgraça nem para a sociedade, nem para eles mesmo" a prisão acaba por excluí-los. - do obstáculo em conseguir arquivos,da situação de vergonha social - "Há aversão inveterada em todas as classes da população em relação aos libertos". Além disso,retrata a situação das prisões em 1848,das tensões e revoltas e a instituição carcerária.Também cita os Apaches , os "jovens malandros dos subúrbios" e toda a repercussão de sua rebeldia.

O livro é um excelente instrumento de pesquisa, e pode notar-se que os seus dados são fruto de muita pesquisa da historiadora (Por isso mesmo, desconsiderem a superficialidade da minha resenha, quem se interessar pelo tema poderá deliciar-se com a clareza e a instigante análise de Michelle).

Particularmente, achei as pesquisas fantásticas.Seria interessante se pudéssemos ler o mesmo tipo de pesquisa, mas no Brasil, não é mesmo? Num mundo hostil,somente os grandes revoltados, ou os grandes condenados, ousam falar.


" A paixão de Perrot pelo belo lhe impõe uma linguagem direta, clara e elegante ao extremo, sem prejuízo do rigor conceitual; revelando verdadeiras lições de como se faz pesquisa, seus textos expõem o arcabouço teórico e os procedimentos da análise, e oferece a oportunidade de conhecê-los e avaliá-los"

Agradecemos a contribuição da Secundarista Thais Rosa.

Equipe Lâminas Verbais.

domingo, 18 de dezembro de 2011

LIVROS


Na Europa da idade média para publicar algum livro era preciso da autorização da Igreja Católica e essa autorização vinha por meio de uma declaração oficial da igreja, chamada “imprimatur”.
Governos de estados autoritários queimam livros, censuram novos autores, proíbem livros que questionam ou podem levar a questionar suas ideologias.
Hoje alunos comemoram o fim do ano letivo rasgando seus livros.
A pergunta que fica é que esse é o resultado que os censores de governos autoritários queriam para o futuro?
 Ou suas medidas de controle foram por demais excessivas e que nada daquilo fora necessário, tendo em vista o que ocorre hoje com a educação?  
            A liberdade de rasgar livros é a liberdade de se enforcar na corda da liberdade, a estupidez ganha asas.
            Espero e a esperança é sempre ingênua, que ao invés de rasgarem seus livros. Que rasguem autores, que rasguem pensamentos, com a produção de mais livros, pois só assim os autores são queimados, o fogo não queima o pensamento, apenas outro livro pode queimá-lo.

OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Contos e Causos do Índio - Simples


Simplicidade é ver beleza nas coisas tão simples, mesmo que outros não a vejam.
Simplicidade é não desejar o que não poderá alcançar, é simples não ver defeitos nas pessoas mesmo que estes existam.
Simples é amar.
Simples é doar.
Simples é ser solidário.
A bondade é simples.
Perdoar é simples.
Não destruir a natureza é simples.
Simples é ser parte integrante deste universo não tão simples.
Simples é acreditar que nas nuvens, ventos, montanhas e rios estão os anjos.
Simples é o sorriso de Neri, que, apesar de tudo, encanta-se com a beleza do por do sol.
Simples é não ter pressa, pois o tempo passará de qualquer maneira.
A luz tomou a forma humana e com simplicidade caminhou entre os homens para pregar o amor.
Enfim, ser simples é estar mais próximo de Deus.

autor: Neusir - Índio.




Cartas de leitores:

[...] Seus escritos são ouro puro! Viver é a matéria do escritor, é a sua matéria. [...] Professor André - Esamc.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dezembro de 2012 / Noite Vazia / Solidão e Miséria intelectual.


Era dezembro de 2012, após o famigerado 2011 - o ano que nunca termina - sucedeu-se o ano em que o mundo deveria acabar. Isso é o que dizia um péssimo filme, aliás um dos piores que já surgiram no cinema. Enfim, eram 23 horas da noite e ele não conseguia dormir.
Do lado de fora, pela fresta da pequena janela do apartamento, ele conseguia mirar a cidade cinzenta - era como se houvesse passado um incêndio pelas ruas. Aliás, de fato passara, aquele verão estava mais implacável do que nunca.
Ele afrouxa o colarinho da camisa e apanha uma cerveja no refrigerador, estava realmente muito quente naquele prédio no centro da terra rasgada. A situação do homem é desesperadora, ele não gosta de ver TV, já leu e releu tudo que tinha vontade, e não consegue pensar em nada que valha a pena escrever.
Parece que não há escolha, ele terá que apanhar algum dinheiro na gaveta da escrivaninha, abotoar sua camisa , vestir uns sapatos e sair as ruas a procura de alguma diversão. E é exatamente isso que ele faz, não há como passar mais uma noite em claro no tédio e na solidão de seu apartamento.
Já nas ruas escaldantes da cidade ele passa pelo velho centro, cheio de bustos de canalhas que a classe dominante achou por bem conservar e enfiar goela abaixo da memória coletiva. Enquanto procura acende um cigarro para relaxar, o suor escorre pela sua testa e umedece os cabelos, e o arco de seus óculos.
Já estava no segundo cigarro e na quarta ronda pelo centro quando encontra o que procura. Uma garota bem em frente ao templo, encostada na estátua do assassino de indígenas. De estatura média e cabelos loiros, logo aguça o olhar de nosso andarilho da noite.
Ele se aproxima, o bombeador de sangue se apressa, o suor da testa aumenta, ele não acredita no que está fazendo, a voz vai sair rouca e fraca, é melhor recuar. NÃO! Ele já veio até ali, precisa terminar o que começou. VOLTE! NÃO, ele irá até o fim.
A garota o fita diretamente e se inclina para a frente a espera da proposta. Ele vacila mais uns instantes até que finalmente vence o receio e diz:
- Hey, podemos conversar?
E ela responde:
- Claro, vai ser aqui mesmo ou quer um lugar mais reservado.
- Pode ser aqui mesmo - diz ele.
- Sabe que isso tem um preço, não sabe? - Diz a garota
- Lógico que sei.
Ele tira do bolso uma nota amassada de cinquenta reais.
- Isso é o suficiente?
E ela responde:
- Sem dúvida, sobre o que quer falar?
- Sei lá, qualquer coisa - diz o rapaz.
- Apenas me tire deste desespero!!!!


Marco Aurélio

domingo, 11 de dezembro de 2011

Contos e Causos do Índio - Chamas da ambição

"Tô deitado dibaixo dum banco, purque aqui tá um fogarel muito brabo, mãe Beria.
Dá sua mão pra que eu durma sem medo do fogo. Sinto que vô sê queimado se fechá o olho.  Ondi tá ocê, mãe?"
A mãe não respondeu e Jori Franciso adormeceu com o corpo ardendo em chamas. 
Foi apenas um pesadelo, felizmente, ao contrário dos membros de sua tribo que não tiveram tempo para sonhar.
Assim foi com Amaberia, o Cacique Galdino, Zinho, Ilton, Nori, Eive, Nadi, entre outros e demais que se perderam na longa estrada para a fuga.



Cartas de leitores:

[...] Obrigada, por ser o Índio de todas as horas. Te amo - Escreveu Grazi [...]

[...] Adorei te conhecer Beijão - Larissa [ ... ] 

[...] Índio, nós amamos vc - Japas - de Pilar [...]


[... Índio você é uma pessoa muito especial com uma alma muito grande - Mayara [...]


"Meninas, o Jori Franciso manda dizê qui gosta di montão de todas voceis, igual ele gosta da Lua."
Neusir - Índio







domingo, 4 de dezembro de 2011

Céu Esfumaçado - Etec Fernando Prestes.

       Etec Fernando Prestes - Foto de: Samantha Bittencourt

Eram 19h e alguns minutos de uma noite de sábado, meados de dezembro. No pátio da velha Etec Fernando Prestes o apagar das luzes de mais um Projeto Integração. O pessoal recolhendo os instrumentos e o grosso das pessoas no Anfiteatro, assistindo os minutos finais da premiação da Gincana.
Uma cena aparentemente normal, para qualquer um que não tenha estudado na Etec Fernando Prestes. Pois para ele era uma mistura do amargo por há certo tempo ter deixado tudo aquilo para trás, com uma engraçada sensação de felicidade por saber que as coisas continuam iguais, ou seja, com aquela estranha magia que ele viveu.
O ar é denso, e o aperto em seu estômago torna insuportável respirar. É hora de se isolar um pouco e refletir. Ele apanha um cigarro, pois a fumaça contribui com o pensamento - ao menos com o seu -, e senta-se em uma velha mureta. Já no avançado da reflexão ele tem um click, um estalo de consciência. Neste momento ele se torna mais pesado que o céu. Afinal, se lembrara que exatamente ali naquela mureta - há quase 6 anos atrás - , foi que ele conhecera seus primeiros amigos naquela escola. Eram meados de 2006.
Foi quase impossível engolir o ar, ele realmente estava com um nó apertado em sua garganta. Olhar para a quadra de futsal, para a velha rede de vôlei, a escadinha, tudo mais ou menos como estava quando ele se formou. No alto, a lua estava bonita, a estrela Dalva e o céu esfumaçado. Exatamente como estavam as lembranças em sua cabeça - bonitas e esfumaçadas.
Foi realmente tudo muito bom, não fossem as mazelas da vida as coisas poderiam ser sempre assim. Mas não cabia espaço para lamentos, apenas boas lembranças, e a certeza de ter aprendido o bastante para aprender mais e enfrentar as adversidades da vida sem exitar.
Por fim, ele se levanta; esfrega as mãos no rosto e baixa o cenho - num respeitoso sinal de gratidão e respeito. 

Marco Aurélio

sábado, 3 de dezembro de 2011

Contos e causos do Índio - Neri, o filho de Amaberia

Daqui nada se leva, mais pra essa vida, muita coisa se trais.
Não importa si é di agora, ou di muito tempo pra trais
As veis ando sozinho, nôtras tô só, na murtidão.
No meio da gentarada, não passo de um lôco na solidão.
Lá na aldeia era tão diferenti di cá na cidade, no meu lugá fui querido pelos véios, criançada e mocidade.
Aqui tô tão perdido que nem sei a minha idade. Nóis saímo di lá sem sabê onde ia chegá.
Otras crianças, na istrada também si perdero feito eu, nóis fugimo do fogarél, mais tanta gente foi ingulida por ele.
Parecia o inferno devorando tudo no meio da gritarada. Dava tanta dó, até vó morreu queimada.
Procuro pela mãe, chamo ela, preciso dela, mais parece que Amaberia fogi di mim e não vem, acho que é por causa disso a minha loucura, sem ninguém.
Sou Neri Jori Francisco Jovino, fio da índia Amaberia com Jovino do Nordeste.

Autor : Neusir - Índio