sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Rolezinhos/ Domesticação do Consumo




Há certo tempo venho acompanhando de relance, nas redes sociais, diversas discussões sobre os "Rolezinhos". Confesso que somente há alguns dias resolvi me inteirar melhor acerca do assunto.
O que percebo é que há um enorme incômodo, por parte dos setores mais abastados da sociedade, com os tais dos "Rolezinhos". Sem sombra de duvida, os encontros dos adolescentes tem dado muita dor de cabeça para os administradores de Shoppings Centers.
Mas afinal de contas será que esses jovens não frequentavam esse espaço antes dos "Rolezinhos"? Com toda certeza frequentavam. Então por que somente agora o estranhamento?
A razão do estranhamento está na postura. A mentalidade senhorial existe no inconsciente coletivo do brasileiro. De certa forma, todos sabem qual é seu lugar na sociedade. Diante dos mais abastados e poderosos é comum uma postura subserviente. A conversa não se dá de igual para igual, apesar de toda a cordialidade, o tom é de Casa Grande para Senzala.
Sem querer, o simples ato de ir ao Shopping aos blocos, ameaça o Status Quo das elites, é uma quebra do protocolo, algo que estava fora do Script. Os capatazes podem vigiar um ou dois"favelados" zanzando pelos corredores, mas não podem vigiar uma multidão deles.
Diante da patuleia organizada a democracia acaba. É hora de descer a chibata. Para garantir o privilégio das elites e restituir seu direito de passear pelos belos corredores e galerias, livres da "gente feia e pobre", vale qualquer coisa.
A elite brasileira não é outra se não aquela da colônia. Uma gente mesquinha e grosseira, que sente vergonha da miséria gerada por ela própria. O problema dos "Rolezinhos" não é outro se não o medo do "inimigo doméstico". O medo de ter a chusma organizada bem ao seu lado.
É claro que os adolescentes que vão aos Shoppings realmente só querem se divertir. Querem usufruir do espaço de lazer erigido e endeusado pela grande mídia burguesa. A predileção desses jovens pelos Shoppings, ao invés da praça pública ou das ruas de seus bairros, é fruto da propaganda feita pela própria Burguesia.
Quem tornou as ruas inseguras, infestadas por carros, poluídas, congestionadas e ameaçadoras foi a própria elite. Vivemos na cidade projetada pelos poderosos. Quem disse que o Shoppings são o lugar ideal para se divertir foram os grandes empresários.
Então por que a surpresa ao ver os jovens da periferia frequentando os Shoppings Centers? Não era esse o objetivo? Evidentemente que era. Mas não dessa forma. Eles querem os jovens da periferia nos Shoppings, mas dóceis, de preferência com o salário do mês no bolso.
A periferia é bem vinda nos Shoppings Centers, sem dúvida que é. Mas na condição submissa de consumidor. Na condição de quem trabalha o mês inteiro para ter o pseudo-prazer de ir as compras uma ou duas vezes. O prazer de perambular pelos corredores, visualizando nas vitrines tudo que um dia irá poder comprar, se trabalhar duro. E se contentar em levar ao menos algo, de tudo o que é oferecido, sentindo-se feliz por participar da festa do consumo.
É assim que as elites querem as periferias nos Shoppings Centers. Separados, dóceis, submissos, consumindo e sobretudo invisíveis.


Marco Aurélio