domingo, 30 de outubro de 2011

Um córrego


A nascente agoniza
A correnteza leva sujeira
A vida não tem valor
O progresso e o seu vigor

Seus cílios, hoje despidos
Do abandono à erosão
Seus peixes, hoje reprimidos
Do descaso à poluição

As águas limpas se distanciam
Ao ver um córrego sentimos nojo
Hoje essa veia de água é um sinônimo de esgoto
De onde vem esse descaso?

Vem de uma cultura acostumada à fartura
De uma sociedade fechada em muros
De uma comunidade que não se identifica com seu meio
Da magia da água na torneira

OTÁVIO SCHOEPS

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ao Ultra-Jovem Marco



Saudações a você, Ultra-Jovem Marco. Gostaria, antes de mais nada, de dizer que sou você alguns anos mais velho.
Sim, você ai que com certeza vive em meados dos anos 90, provavelmente nem sabe ler direito ainda, mas com certeza conseguirá entender algo do que vou lhe dizer.
Desde já peço desculpas por decepcioná-lo, mas carros voadores não temos ainda, seria ótimo já que temos muitos engarrafamentos por todos os lados, porém ainda estamos longe de uma solução. Igualdade entre as pessoas e paz mundial também são coisas distantes, na realidade nunca estivemos tão longe.
Mas calma meu pequeno amigo, nem tudo é tragédia, atualmente as pessoas tem despertado e ao menos alguns perceberam que o governo não os representa, e que o estado foi sequestrado por uma elite que utiliza-o para oprimir o restante da população e garantir seus privilégios de classe.
Todo conhecimento, ou ao menos a maior parte do conhecimento produzido vai parar nas mãos dessa elite. É um monopólio de cérebros. Sem contar que as leis, os tratados e até mesmo a constituição existem para garantir seus direitos de livre comércio e de propriedade.
O mundo em que este jovem que escreve vive, não é muito diferente do seu, jovem criança. As contradições de seu mundo, não foram superadas no meu. Eu sei, isso é triste.
Mas tudo bem, acredito que não compreendeu bulhufas do que eu te disse, e que mal vê a hora de acabar logo de ler essa carta e voltar a jogar o mega-drive que tanto encheu o saco da mamãe para ela comprar. Está certo você. Eu seria bem mais frustrado se você não tivesse jogado tanto vídeo-game. Na realidade eu jogaria até hoje para me desligar um pouco, se não tivesse descoberto a cerveja e suas milagrosas propriedades.
Enfim, espero que aconteça alguma novidade aqui para eu poder te enviar uma carta mais otimista, acredite, estamos lutando para que as coisas melhorem - fazemos muito pouco é verdade, mas estamos fazendo algo.
Um forte abraço a você, Ultra-Jovem Marco.





Jovem Marco - 25/10/2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Capitalismo e proto-capitalismo

Entre a exploração oficial e a exploração marginal
O crime vem dos dois lados com a violência
Político, Policia e Partidos do Crime
O crime e suas ligações com a legalidade uma união sinistra
Todos dentro desse sistema sujo
Qual a diferença entre um grande empresário e de um dono de uma boca?
Seria o produto?
Ambos exploradores
Ambos geram miséria
O oficial e marginal de mãos dadas
A diferença se dá aos olhos dessa sociedade hipócrita
E como são tratados pelo Poder Judiciário
A aparência, o produto, o lucro, os meios e o fim

 OTÁVIO SCHOEPS

domingo, 16 de outubro de 2011

Semana de História - UNISO 2011

Galera, para quem está em Sorocaba ou região, à partir desta segunda (17/10) começa a já conhecida e consagrada Semana de História da Universidade de Sorocaba. E no dia 19/10, haverá uma palestra organizada pelos terroristas feios e fedidos (E as vezes, estudantes de História) deste covil Blog. 
 A palestra contará com o professor de História e anarco-punk Julio César Bataiote (Zorel), dando uma aula sobre pedagogia libertária, com o tema "Educação alternativa e escolas anarquistas", e o professor de Geografia, André Mazzini, falando sobre "A pedagogia historico-critica e sua importancia na formação da classe trabalhadora". 


O evento será LIVRE e GRATUÍTO! Então, contamos com a presença de todos!





Desde já, obrigado!
Equipe do Lâminas Verbais


Perdoai nossas dividas

Pode começar com um obrigado
Pode acabar com uma desculpa
O prato cheio será cobrado
O pagamento do empregado

De favores, o nó desatado
De horrores, ficará esgotado
Dos males, faça as malas
Dos louvores, haverá esperança

Obrigado ao gasto, desculpa os juros
Obrigado ao custo, desculpa os juros
Obrigado ao uso, desculpa os juros
Obrigado ao sujo, desculpa os juros

Nos falam de um inferno tão abstrato
Veja a nossa estrutura social e verá
O inferno concreto

OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 15 de outubro de 2011

O Professor Pedro / Seu dia especial e a Chuva.


Florestan Fernandes
"Quando a  revolução for feita nas escolas, o povo a fará nas ruas"


O Professor Pedro desperta com a luminosidade que entra pela sua janela, aos poucos vai se espreguiçando e animando o espirito para mais um dia. O café do sábado tem um gosto todo especial, longe daquele amargo funesto que inicia os dias fatigantes de trabalho durante a semana.
Este sábado ainda tem mais uma razão para ser um dia animado, não feliz, o Professor Pedro, assim como um alemão maluco chamado Schopenhauer, não acredita muito nesta tal de felicidade. Porém, o dia pode ser bastante animado, apesar da chuva, afinal, é dia do Professor.
Pois sim, de algum modo resolveu-se homenagear esta célebre profissão em um dia do ano. Por coincidência desta vez este dia caiu em um sábado, o que eliminou uma folga do calendário, e por mais coincidência ainda, choveu. 
Mas nosso amigo Pedro não se aborrece com estas coisas, de aborrecimentos bastam os que a vida já lhe oferece. Apesar dos pesares, o dia do Professor não é de todo mal. Pois deixando-se um pouco de lado o cinismo da propaganda do estado, o mesmo que avilta o salário destes profissionais e tem a audácia de dizer que é sobre os ombros destes homens e mulheres que repousa a carga da responsabilidade pelo futuro deste país, podemos usar esta data para refletir sobre nossa situação.
Claro, que refletir é tudo que o estado não quer, o Professor Pedro sabe disso. Mesmo assim ele dedica toda a sua manhã a pensar e repensar a sua prática, e sobretudo as condições em que se encontra. Nosso jovem e aguerrido educador não pretende capitular tão já. Ele tem um inimigo e vai combatê-lo até o ultimo suspiro. Não pretende de forma alguma se entregar ao comodismo ou a desilusão.
É assim que o Professor Pedro acha que deve se encarar esta data, dignificando a si mesmo através do pensar. Não só pensar, mas repensar. O dia chuvoso é perfeito para isso. É mais ou menos assim que se encontra a situação da educação no Brasil. Uma nuvem negra de precariedades e alienação em massa paira sobre todos nós.
Depois de refletir e adiantar algumas leituras, Pedro decide que então é hora de aproveitar seu tempo liberado. Um café bem caprichado, um pãozinho com geleia de morango, um bom filme, um cigarro de palha, e por que não alguns trechos de Schopenhauer para alegrar.

...


Um forte abraço a todos os leitores do Lâminas Verbais, e parabéns a todos os profissionais da educação, que assim como o Professor Pedro ainda não capitularam mediante as intempéries do dia a dia, aos desarranjos e sabotagens do sistema. Também um forte abraço aqueles que atuam nos bastidores, mas que garantem que a educação aconteça, contribuindo de igual maneira com a vida escolar, estou me referindo ao pessoal da limpeza, cozinha, biblioteca, manutenção e serviços em geral. Todos estes também vítimas do canalhice do estado neoliberal. Até a próxima postagem. 


FELIZ DIA DO PROFESSOR!!!





Marco Aurélio




terça-feira, 11 de outubro de 2011

Biografia do Índio

Nascido em 16 de maio de 1955, Neusir Ferreira dos Santos, filho de Joaquim Ferreira dos Santos, que trabalhava na roça e desempenhava atividades como a extração de palmito e sua venda, além de caçar e fazer artesanatos, e Joana Ferreira da Silva, que trabalhava em serviços domésticos e também lavava roupa para fora.
Neusir é morador do Parque Ouro Fino e veio para Sorocaba há 40 anos. Com seu jeito simples, Índio assim como é chamado, devido a sua descendência e seu gosto pelo artesanato, veio de Tapiraí para Sorocaba devido a falta de recursos que a cidade apresentava. Morava numa casinha feita de sapê e barro, quando criança não tinha o condições de comprar calçado, então se deu o costume de andar descalço – costume mantido até hoje, por opção.
Já teve várias profissões, como ajudante de cozinha e mais tarde garçom. Já trabalhou também como frentista, borracheiro, aos 12 anos foi cobrador de ônibus. Já foi verdureiro, entregou jornais, enfim, foram várias atividades.
Atualmente trabalha no colégio Anglo, onde atua como inspetor de alunos. Índio é casado com Fátima e pai de três filhos, Junior, Bárbara e Gustavo. As circunstâncias fizeram com que ele cursasse a escola somente até a 4ª série – antigo primário – e só depois de adulto concluísse o Ensino Médio.
Um dia sonhou em ser Jornalista, mas hoje seu maior sonho é ver suas histórias reunidas e publicadas em um livro.  Ele conta que como não é possuidor de bens materiais ou riqueza, o que ele tem para deixar são suas mensagens.
Índio é uma dessas pessoas que possui talento tanto para a escrita quanto para o artesanato, pretende, em breve, lançar um livro – intitulado Contos e Causos do Índio –, uma ficção que sem a pretensão de ser, mistura-se com a realidade.


"Espero que tenham gostado de conhecer um pouco sobre a história deste membro do povo Sorocabano. Sobretudo, espero contar , em breve, com algumas de suas histórias publicadas aqui no Blog. Um abraço aos leitores do Lâminas Verbais. Até a próxima postagem. "



Postado por Marco Aurélio

domingo, 9 de outubro de 2011

O lucro, a riqueza e a pobreza


A coisa mais pobre em nossa cultura é o sonho de ser rico, pois a riqueza não existe sem pobreza; e para haver riqueza tem que ter acumulação e lucro.
O lucro sempre vem associado ao sucesso, o que tem que mudar é o conceito de lucro.
O bem estar deveria ser visto como lucro, por exemplo: quando se faz um loteamento apenas se pensa no lucro da venda de lotes e não no bem estar das pessoas que irão morar nele, pois o lucro em nossa cultura vem antes de tudo; o lucro é a expressão do egoísmo cultivada em nossa sociedade que mantém o orgulho individual da pessoa perante a sociedade em forma de superioridade sobre seus semelhantes.
O sonho de riqueza entra no imaginário do indivíduo e não tendo possibilidades momentâneas de realizar, vai buscar no jogo de loterias; enquanto uns vão optar por roubar; outros se tornaram corruptos e tudo isso para satisfazer seus tristes sonhos idiotas de riqueza e assim gerando violência e miséria; fazendo de seus sonhos, pesadelos de muitos.

OTÁVIO SCHOEPS 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Professor Pedro


Olá, me chamam de Professor Pedro. Sou o protagonista das histórias que nosso amigo, e também professor, Marco Aurélio vêm publicando.
Em primeiro lugar gostaria de dizer que aqui estou, escrevendo estas linhas, a convite do próprio. Em seguida, quero agradecer imensamente a oportunidade, afinal é muito bom falar por si, e expressar minha visão sobre toda situação na qual me encontro.
Muito bem, feitas já as devidas explicações e formalidades, creio que já possa começar a lhes contar minha história.
Como já disse, me chamo Pedro. Tenho 23 anos, e sou paulista de nascimento. Há algum tempo trabalho na educação, e também há algum tempo venho observando o estado calamitoso em que a mesma se encontra.
Não preciso falar muito sobre a situação crítica em que a educação se encontra, onde sua maior função não vêm sendo cumprida. Ou seja, a de ensinar o individuo toda a sua bagagem cultural; e também os saberes e  conhecimentos que a sociedade em que ele está inserido tem acumulados. Não só ensiná-los como repensá-los, assim preparando o educando para conquistar sua autonomia dentro da mesma.
Os problemas que levam a essa situação são muitos, sendo que boa parte deles já foi aqui denunciada pela equipe do Blog. Mas para ser bem didático e dialético, irei repeti-los.
Muito bem, o principal sem dúvida é a falta de investimento - parte da estratégia do estado neoliberal de corte de gastos em áreas sociais. Fato que desmantelou e sucateou a escola pública. Outro, de igual peso, é o fato de que muitos dos meus colegas de profissão já capitularam mediante a caótica situação, o descredito de sua profissão perante a sociedade e o aviltamento de seus salários.
Fora esses dois enormes problemas, ainda temos a falta de recursos, de materiais - ambos decorrentes da falta de investimento - e de autonomia em sala de aula. Superlotação nem se fala, pois esta salta a vista em qualquer escola que se vá.
Porém, é ingenuidade acreditar que o problema esteja só na escola, pois o meio social e familiar não tem sido favorável para a plena educação do aluno - uma vez que a geração de pais atual é vítima do mesmo processo de sabotagem do ensino público e alienação em massa.
Partindo do pressuposto Freyriano de que ensinar não é meramente transferir informação, não podemos acreditar que somente o fato de alunos e professor ficarem confinados no mesmo lugar por algumas horas irá gerar o aprendizado. Isso é uma besteira, e das grandes.
O conhecimento deve ser alcançado. E para isso é necessário empenho de ambos - aluno e professor. Sobretudo, são necessárias condições favoráveis para que esse conhecimento possa ser efetivamente alcançado ao longo do ano letivo.
Acreditem amigos, isso é realmente complicado de se obter, dentro da estrutura neoliberal e mesquinha, eu diria que é praticamente impossível.
Mas em ultima instância a gente escolhe, é nosso dever lutar por melhores condições de trabalho, porém também é nosso dever fazer o melhor que podemos com o que dispomos em mãos no momento.
Por isso caros amigos, ainda acredito na educação, por isso me empenho, me repenso, me envolvo diretamente na luta e na militância por uma educação melhor para nosso país. Por isso sou Professor Pedro, com muito orgulho, por que sei que há tantos outros Pedros por ai, tão angustiados e ao mesmo tempo tão esperançosos quanto eu.
Um forte abraço aos amigos e leitores do Lâminas Verbais, obrigado a toda equipe por ceder este espaço, e até uma próxima oportunidade.

" E Viva o Brasil!!! "




Professor Pedro

domingo, 2 de outubro de 2011





Turismo

As cidades grandes, médias ou pequenas, mas sobre tudo as grandes e médias que concentram obviamente muitas pessoas é interessante perceber, se fizer uma pesquisa com os seus habitantes perguntando onde gostariam de passar as férias. Com certeza a grande maioria pensará em lugar idealizado de tranqüilidade, limpo e com uma natureza exuberante e ao mesmo tempo com todo o conforto dos grandes centros.
Eu me pergunto o porquê não tentar transformar o lugar onde se vive, em lugar que é idealizado para férias porque temos que viver nesse lixo urbano e juntar um dinheiro para ir, onde nos pareça um pouco mais agradável em comparação a nossa realidade e indo um pouco mais além pensando como foi feita a ocupação no Brasil o que se tem por beleza se deve apenas a natureza, pois nossa cultura de ocupação baseada na especulação imobiliária, basta observar que os lugares bonitos do Brasil são onde tem pouca gente, pois se depender do nosso espírito de porco tudo seria uma favela em volta de alguns bairros de elite, simples assim.
Enquanto isso,vamos trabalhar e juntar um dinheiro para ter um pouco de férias dessa triste realidade urbana que é o Brasil.

OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 1 de outubro de 2011

Professor Pedro / Debord / Lar

" O espectador não se sente em casa em lugar nenhum, pois o espetáculo está em todo lugar" - Guy Debord.




O Professor Pedro sai de seu trabalho, ele está exausto, passara o dia preenchendo diários, estava completamente exaurido de suas forças.
No caminho para casa, uma cerveja gelada na padaria. E então, ele finalmente chega ao destino, seu lar.
De uns tempos para cá, Pedro andava meio reflexivo a respeito de uma frase que viu em Debord. Ela dizia basicamente que na sociedade em que vivemos somos homens sem lar, pelo fato de que um espetáculo alheio a nossa essência nos ronda onde quer que a gente vá, nos impedindo de ser quem realmente podemos ser.
Assim que chega em sua casa se depara com sua TV, que está desligada, mas que a essa altura da consciência é encarada como um revolver descarregado. Porém ele passa por ela em segurança, não há ninguém para ligá-la e não é ele quem irá fazê-lo.
O Professor Pedro avança até um nível superior de sua casa, o quarto , e lá encontra uma outra ameaça - o Rádio. A cada passo que dá pela casa se sente mais ameaçado. Pedro é refém em seu próprio lar.
É nesse momento que ele suspira e pensa, em como é difícil a sua missão - a de educar. Como é complicado dizer, quando há um mundo de imagens feitas para desdizer o que ele diz. É realmente difícil dar aula, com todo enorme numero de contra aulas que o mundo dá.
Pedro estava sitiado, mesmo assim não desistia de lutar, pois sabia que é justamente ai que habita a beleza das coisas. Na luta eterna e incansável que é viver.


Marco Aurélio