sábado, 30 de abril de 2011

RESISTENCIA

A Resistência de um povo contra as investidas do Estado e do Capital.

Vejam:



Este vídeo é fruto de um trabalho desenvolvido no Chile pelo grupo Avalanche Missões Urbanas - aqui do Brasil. O mesmo retrata a luta do povo Mapuche ( também conhecido como Araucanos ), um povo indígena que que nunca aceitou a dominação dos espanhóis e que luta até os dias de hoje para manter seu legado cultural, sua autonomia e seu direito a terra.
Do outro lado está o estado Chileno, onde mora a opressão estatal e a lógica do capital, que busca fagocitar esse povo. O que começou pelas mãos da Coroa Espanhola tem continuidade pelas mãos do governo Chileno, mas o povo Mapuche não há de se entregar, pois o espírito aguerrido destes humanos é mais forte que qualquer opressão do estado e do capital.
Amigos, lamento não poder escrever algo com maior embasamento, pois confesso ter tomado conhecimento dessa situação a pouco tempo. Entretanto prometo pesquisar sobre o assunto e postar uma 2ª parte.


Abraços


Marco Aurélio

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Digger's Song

Digger's Song ou Levellers and Diggers




You noble diggers all stand up now
The wasteland to maintain sin (?) cavaliers by name
Your digging does maintain and persons all defame
Stand up now, stand up now
Your houses they pull down stand up now, stand up now
Your houses they pull down, stand up now
Your houses they pull down to fright your men in town
But the gentry must come down and the poor shall wear the crown
Stand up now diggers all
With spades and hoes and plows stand up now, stand up now
With spades and hoes and plows, stand up now
Your freedom to uphold sin (?) cavaliers are bold
To kill you if they could and rights from you to hold
Stand up now diggers all
The gentry are all round stand up now, stand up now
The gentry are all round stand up now
The gentry are all round on each side the are found
Their wisdom so profound to cheat us of our ground
Stand up now stand up now
The lawyers they conjoin stand up now stand up now
The lawyers they conjoin stand up now
To rescue they advise, such fury they devise, the devil in them lies
And hath blinded both their eyes
Stand up now, stand up now
The clergy they come in stand up now, stand up now
The clergy they come in stand up now
The clergy they come in and say it is a sin
That we should now begin our freedom for to win
Stand up now diggers all
'Gainst lawyers and 'gainst priests stand up now stand up now
'Gainst lawyers and 'gainst priests stand up now
For tyrants they are both, even flat against their oath
To grant us they are loathe free meat and drink and cloth
Stand up now diggers all
The club is all their law, stand up now stand up now
The club is all their law, stand up now
The club is all their law, to keep all men in awe
That they no vision saw to maintain such a law
Stand up now diggers all

Os Diggers formaram juntamente com os Levellers, Quakers e Hunters uma resistência radical na Inglaterra do século XVII contra as trnsformações políticas e religiosas. Revindicavam a reforma agrária, anti-clericalismo e questionavam os valores da propriedade privada, aliás, tomavam as terras do estado e da igreja para cultiva-las (Isso em 1646!).Eram liderados  por Gerrard Winstanley, que apesar de cristão criticava os valores religiosos. Um excelente livro que relata esses acontecimentos é  " O Mundo De Ponta-Cabeça" de Christopher Hill, que ao decorrer de todo livro se esforça para mostrar o lado esquecido pela história da revolução gloriosa, com seu estudo passa a dar voz ativa ao povo que até então não passava de espectador.A luta desses grupos de origem simples nos táz uma voz, um grito, uma súplica por igualdade, um basta a exploração. Porém ao analisar-mos nossa sociedade vemos que essas necessidades igualitárias ainda não foram alcançadas, após as revoluções burguesas uma nova ordem entrou em cena mas as condições da classe trabalhadora praticamente não mudaram,grupos de sem-terra ainda são frequentes, desigualdade na destrubuição de terras também, alienação religiosa ainda se faz presente. Então, quando virão os novos Diggers?

Renan Bonassa

segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Os guerreiros do Arco-Iris"

E ai galera, tudo bem?

Hoje, como cada um ja se aprimorou em certa area do blog, vou recomendar mais um documentario, mas que dessa vez é um que realmente me chamou a atenção.

O nome do documentario é "The Rainbow Warriors of Waiheke Island" e no Brasil "Os Guerreiros do Arco-Iris". O filme se passa na metade dos anos 70, e fala de um grupo de pessoas dentro do Greenpeace que resolveu lutar contra os navios-baleeiros. O filme trata de maneira muito honesta a vida destas pessoas, mostra a precariedade de equipamentos, com os quais eles tinham de passar meses em alto-mar, a dificuldades e perigos da luta diaria. O filme da enfoque em algumas partes, que realmente marcam, como a equipe do "Rainbow Warrior" (Nome do barco), indo resgatar o povo de uma pequena ilha que tinha sofrido testes de bombas nucleares norte-americanas, e a morte de alguns integrantes pelo ataque violento de alguns baleeiros. O filme ainda mostra a vida atual dos agora ex-integrantes do Greenpeace, que lutaram no Rainbow Warrior, mostra a comunidade alternativa criada por eles na ilha de Waiheke (Nova Zelandia), que vive principalmente do plantio familiar e da venda de geléia feita por eles.

Para mim, o filme marcou muito, pelos ideiais "esquerdistas", mas principalmente pelo ativismo contra o abate de animais.



Existem hoje em dia varios grupos que atuam contra os baleeiros, mas como o Greenpeace hoje é uma "multinacional", gosto de citar os caras do Sea Sepherd, que realmente fazem uma luta focada e direta. Eles tem um programa no Animal Planet chamado "Whale Wars", que retrata a vida diaria deles no barco, as lutas e ataques sofridos, vale a pena!

Vejam e comentem...


Thales B. Souzedo

domingo, 24 de abril de 2011

Não sei


Ideias vão e vem
E eu não sei o que fazer
Problemas vão e vem
E eu não sei pra onde correr
Angustias vão e vem
E eu não sei onde me esconder
Esculachos vão e vem
E eu não sei o que dizer
Tropeços vão e vem
E eu não sei como me manter
Tiros vão e vem
E eu não sei como me defender

E assim se passaram anos
Onde poeira e teias de aranha
Se confundem com minha pele

E hoje já não sei
O que é verdade
E o que é  mentira

OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Pena - O Teatro Mágico

Olá pessoal, trago a vocês, nesta sexta-feira santa, uma música da banda independente "O Teatro Mágico".
Esta música é uma crítica a funesta face comercial da arte, repleta de alusões e alegorias que remetem a forte presença do capital nas produções artísticas. O que tira por completo o caráter espontâneo da arte, transformando-a em uma mercadoria como qualquer outra.
Parte do cenário independente da musica brasileira, "O Teatro Mágico" vêm a muito tempo lutando contra a vinculação da música as grandes gravadoras e aos grandes veículos de mídia. Produzindo sua arte de modo independente e a distribuindo de modo gratuito, alcançou grande público.
Afinal, quem deve decidir como produzir e como distribuir seu trabalho artístico é ninguém mais ninguém menos que o próprio artista. Espero que gostem da postagem e que venham somar ao debate. Forte abraço a todos, tenham um ótimo feriado.



O poeta pena
Quando cai o pano e o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é cédula mãe solteira

O poeta pena
Quando cai o pano e o pano cai
Acordes em oferta
Cordel em promoção
A prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
Luz acesa
Lá se dorme um sol em mi menor

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior

O palhaço pena
Quando cai o pano e o pano cai
A porcentagem e o verso
Rifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão

O palhaço pena
Quando cai o pano e o pano cai
Meu museu em obras
Obras em leilão
Atalhos retalhos e sobras
A matemática da arte em papel de pão

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
Luz acesa
Já se abre um sol em mi maior

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior


Composição: Fernando Anitelli E Maíra Viana






Marco Aurélio



quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Vosso Tanque General...

O Vosso Tanque General...




O Vosso Tanque General, É Um Carro Forte
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

Bretold Brecht


Este é mais um poema de Betold Brecht que aqui comento, não quero me passar por repetitivo, mas a profundidade que seus escritos contém transcende qualquer tentativa de desculpas. Nesse texto Brecht nos mostra toda engenhosidade destrutiva que a humanidade pode criar, porém, mesmo com todo aparato militar e toda tecnologia a seu dispor a racionalidade humana (que esporadicamente aparece na história) continua sendo o calcanhar de Aquiles daqueles que buscam através da alienação prosseguir com suas guerras corporativas onde não importa quem ganha, só importa manter a máquina militar alimentada do sangue e da esperança dos que possuem recursos de interesse dos poderosos.


Renan Bonassa

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Господа и слуги"

Bom pessoal, estas 2 semanas que passaram a gente atrasou um pouco, mas após o feriado a gente tenta ser mais pontual (sei!!!). Então...hoje, a pedidos do Marco Aurelio, vulgo "Che", vou fazer a resenha de um livro que terminei de ler semana passada. O livro no caso é "Senhor e Servo" de Lev Nikoláievich Tolstói ou Leon Tolstói.



Antes de le-lo, não conhecia muito sobre Tolstói, mas o livro me chamou a atenção pela maneira tão diferente que ele trata a luta de classes.

O livro conta a historia de um senhor de terras, chamado Vassili Andreitch, e seu servo (no livro "Mujique") Nikita. A historia se passa na gélida Russia, logo após o feriado de São Nicolau. Vassili tem que fazer uma viagem de negocios, e leva Nikita consigo, para ajudar na jornada. Mas em meio a forte nevasca, se perdem, e para sobreviverem tem de deixar as castas sociais de lado, e se ajudarem como podem para conseguir passar pela noite sem morrerem congelados.
A historia é regada a tensão e ansiedade, medo e angustia, e partes realmente comoventes, com a imagem de neve e frio petrificante sempre permanentes. Uma das coisas legais de Tolstói, era que ele era um cara muito ligado com a natureza e o anarquismo. O lado da natureza esta estampado na imagem de Nikita, o obediente e solicito servo, que cuida dos animais e conhece os segredos da floresta, e o lado anarquista fica cada vez mais agudo, quando a situação demanda, e que no caso, é o ponto chave da historia.

O livro é incrivel, e é bem curto. Vale muito a pena!! É uma verdadeira lição de humildade, ainda mais em tempos tão individualistas como os nossos.

A versão que eu peguei, ainda vem com outros dois contos dele, sendo o segundo, "O prisioneiro do cáucaso" e o terceiro, "Deus vê a verdade, mas custa a revelar".

LEIAM!!!


Atenciosamente
Thales B. Souzedo

domingo, 17 de abril de 2011

Seguir a multidão

     

Seguir a multidão
Ou cravar os pés no chão
Histeria coletiva
Alegria e euforia
Estupros e covardia

Seguir a multidão
Ou cravar os pés no chão
Aceito com receio
O corpo corroído e possuído
Pensamento insano
Sofrimento posto e imposto

Seguir a multidão
Ou cravar os pés no chão
Linchamento sem julgamento
Exército alienado, somos um só
Mas eu sou um grão de areia
Nesse saco chamado mundo

Seguir a multidão
Ou cravar os pés no chão
A um passo da revolução
A um passo da repressão
Caminho percorrido
Sem rastro pra não ser seguido

Seguir a multidão
Ou cravar os pés no chão
Só me resta juntar os cacos
Chorar o leite derramado
As cabeças cortadas
Os corpos pisoteados
Os livros queimados
A consciência pesada e a ressaca

OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 16 de abril de 2011

Fahrenheit 451 - Resenha

Olá pessoal, antes de mais nada queria me desculpar pelo atraso com minha postagem semanal. Tive uns probleminhas.
Agora, já mais tranquilo, trago até vocês algumas observações que fiz sobre um livro muito bacana que li e decidi compartilhar com vocês.


Fahrenheit 451 é narrado num cenário distopiótico, e tem como temática o comportamento humano e a sociedade.
Por trás de todos os simbolismos contidos nesta obra, encontramos uma severa  crítica aos rumos que a sociedade contemporânea tem tomado. No simples ato de utilizar os bombeiros - heróis - para incinerar os livros já mora uma profunda intriga.
Em sua narrativa Bradbury também aborda a questão do afastamento entre as pessoas, o fato de conversarem menos e gastarem uma boa parte de seu tempo engolindo o entretenimento barato e vazio oferecido pela mídia. Todos acomodados.
É baseando-se nesses vícios da sociedade que o autor constrói seu mundo de distopia. Um mundo onde as pessoas pouco se falam, nada pensam, nada questionam e nada observam. Um lugar vazio, onde a humanidade já se foi há tempos, e tudo que resta são sombras do que um dia se pôde chamar de pessoas.
Os poucos que pensam são caçados como animais. Ninguém sabe mais nada sobre nada, e tampouco procuram saber. Os livros são perigosos demais para circularem neste mundo, então são queimados.
Porém, tudo isso está longe demais de nosso cotidiano. Certo?
- Queimar Livros? Que absurdo.
- Viver sem conversar sobre idéias? Imaginem só.
Pois eu digo meus amigos, a crítica de Ray Bradbury nos cai como uma luva. Afinal, se pararmos para pensar, vivemos na época em que a informação circula numa velocidade absurda. Vivemos no mundo onde toneladas de noticias invadem nossa casa todos os dias.
Porém, qual é o conhecimento que se produz com tudo isso? Que tempo tem as pessoas para refletir?
Nosso mundo não está muito longe de se tornar uma cópia da distopia de Bradbury. Não estamos longe de ter quatro televisores na sala, e muito menos de passarmos o dia recebendo informação, sem acrescentar uma só letra ao que nos dizem.
Se continuarmos acomodados é algo bem parecido que iremos vivenciar. Só não creio que será necessário queimar os livros, pois nos rumos que as coisas andam não haverá ninguém capaz de lê-los.
Então amigos, fica ai o apelo. Não deixemos que nos imbecilizem. Somos homens e mulheres, somos a força da mudança neste mundo, então, que o mudemos para algo melhor!!!



Sugestões de Livros:

Orwel, George. 1984

Huxley, Aldous. Admirável Mundo Novo.


Sugestões de Filmes:

Fahrenheit 451 Direção: François Truffaut, 1967.

1984. Direção: Michael Radford, 1984.

Admirável Mundo Novo. Direção: Leslie Libman e Larry Williams, 1998.



Abraço a todos vocês leitores. E até a próxima postagem.



Marco Aurélio






quinta-feira, 14 de abril de 2011

Carta a Stalingrado

                                                  Carta a Stalingrado
Stalingrado - 1943


Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

Carlos Drummond de Andrade

Esse poema nos passa  uma mensagem forte sobre os horrores da 2ª Guerra Mundial e sobretudo a relutância de Stalingrado, e sua vontade quase sobrenatural em defender os escombros que um dia chamaram de cidade. Este esforço conjunto por um ideal comum (Vencer as tropas alemãs) é um contraponto a apatia contemporânea, que apesar de camuflada impede-nos de tomar alguma atitude (não estou aqui defendendo luta arma no séc. XXI) que possa de fato fazer a diferença, esse espírito feroz de auto-defesa (mesmo que os habitantes de Stalingrado foram forçados a permanecer em sua cidade) perdeu-se em meio a nova ordem mundial. Uma ordem onde ter um ideal é perda de tempo, ter opinião oposta ao conformismo é sinônimo de radicalismo. A ordem muda, porém as bases permanecem, manipulação, repressão, exclusão e ódio não acabaram com a queda do nazismo, permaneceram e evoluíram ao ponto das pessoas não perceberem que ao calar-se concordam. È na imutabilidade sócio-cultural que a permanência dessa base desumana se concretiza.

“Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada” Edmund Burke

Renan Bonassa

terça-feira, 12 de abril de 2011

"Ilha das Flores"

Ola pessoal, tudo bem?

Desculpem os meus atrasos ultimamente para postar. Época de provas, apresentar trabalhos, correr atras de trampo e cuidar da banda...parece pouco, mas consome o dia rapidinho. Bom, vamos ao post de hoje: Como não tive tempo de preparar nada de especial, resolvi colocar aqui um documentario (bem curtinho, menos que 13 min.) bem legal que eu vi a alguns anos. Acho que vão gostar tambem.




Assistam e por favor, deixem suas impressões!

Obrigado pela atenção!
Thales B. Souzedo

domingo, 10 de abril de 2011

É o sonho, é o sangue


Nessa terra
É o sonho, é o sangue

Dos povos
Das vidas
Das tristezas
Misturadas as belezas

Nessa terra
É o sonho, é o sangue

É sofrer pra ser
É sofrer pra ter
É sofrer pra crer
É sofrer pra viver

Dos passos
Dos dias
Das verdades
Massacradas pelas vaidades

Nessa terra
É o sonho, é o sangue

Quando se tem o que beber
Quando se tem o que fazer
Quando se tem o que comer
Quando se tem o que temer

Dos vinhos
Das idas
Das voltas
Marcadas pelas revoltas

Nessa terra
É o sonho, é o sangue

OTÁVIO SCHOEPS

sábado, 9 de abril de 2011

Operário em Construção - Vinicius de Moraes

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.


Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Uma poesia de cunho marxista. Retrata a tomada de consciência do proletariado, diante da exploração de sua força de trabalho. Fazendo um gancho com o ultimo post do Renan, podemos dizer que é a "massa esquecida" que começa a tomar consciência de que são eles o sustentáculo de todo o mundo. Marx diz que os operários tem um mundo a conquistar, porém na ótica de Moraes o mundo já é deles. Enfim, um ótimo instrumento de reflexão, espero que gostem. Até o próximo Post.

Marco Aurélio



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Peguntas de um Trabalhador que Lê

Tarsila do Amaral - Operários

 Peguntas de um Trabalhador que Lê

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Cesares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?

Cada pagina uma vitoria.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.


Bertold Brecht

O texto de Bertold nos mostra a história contada não apenas pelos vencedores, mas pelos líderes vitoriosos, deixando de lado os monumentais feitos dos homens que estiveram lado a lado com esses respeitáveis líderes e que sem eles talvez nem ouvíssemos falar de nomes como Napoleão, Espártaco,Trajano etc.
A importância desses homens que literalmente fazem a história é resumida ao nome de seu líder, não que este seja desqualificado, mas sem a massa anônima que realiza o trabalho ao que se resumiria o líder?
“Ao vencedor resta a história... de que vale a vida de alguns em troca de milhões?” Guerrilha – Dorsal Atlântica

Renan Bonassa

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Participações Especiais.

Informamos que em breve teremos algumas participações especiais em nosso Blog.


Aguardem!!!



Equipe Lâminas Verbais

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Il Postino"

E ai pessoal, tudo bem?

Hoje pra variar um pouco as coisas, vou indicar um filme que é um dos melhores que eu ja vi, e um dos meus favoritos...um dos poucos que realmente me tocou.

"O Carteiro e o Poeta" (Il Postino, em Italiano), é um filme Italiano, sobre o exilio do famoso poeta Chileno, Pablo Neruda. Mas mais do que isso, ele é um filme com uma história magnifica.

O filme mistura realidade (o proprio exilio de Pablo Neruda) e ficção, ao mudar o local de onde se passa o exilio, da Ilha Negra no Chile, para uma cidadezinha na Italia. O filme se passa no litoral sul da Italia, em uma cidade remota, monótona e miseravel, aonde as pessoas não tem o minimo de escolaridade, e a unica fonte de renda é a pescaria familiar.

Mario Ruopollo é um homem de 40 anos extremamente ingenuo, que vive com seu pai, um pescador velho. Mario esta desempregado e não quer trabalhar como pescador, mas precisa de um emprego para ajudar no sustento da casa, até que um certo dia a cidade recebe uma mensagem que acabaria com sua monotonia: A chegada de um exilado politico do Chile. Logo se descobre que se trata do famoso poeta socialista Pablo Neruda. Com essa novidade, surge o cargo de ser carteiro de Neruda, em que as exigencias são: saber ler e escrever e ter uma bicicleta. Mario logo se candidata ao emprego e começa na função.

Mario começa timido em sua função, entregando cartas (dezenas por dia) a Neruda e indo embora sem dizer um "A". Mas ao ver que Neruda recebe quase que exclusivamente cartas de mulheres, Mario pergunta se o poeta pode ajuda-lo a escrever poesias para encantar sua amada, Beatrice, garçonete do unico boteco do vilarejo. Aos poucos Neruda tenta mostrar ao simples carteiro a beleza, profundidade e simplicidade da poesia que sempre existiram em si e logo se tornam bons amigos. Aos poucos Mario vai mudando sua maneira de ver a vida e o mundo, se tornando um apaixonado poeta. As coisas começam a mudar quando Neruda é aceito novamente no Chile, e vai embora da pequena cidade, deixando para tras saudade e esperança. Mas a historia não termina ai...

ASSISTAM!!

(Desculpem, não achei um trailer com legenda. Mas traduzirei o que ele fala...)



"Mario era um carteiro humilde, que vivia uma vida simples em uma pequena ilha Italiana. Por anos ele amou Breatice, mas não sabia como conta-la, até que Pablo Neruda, o famoso poeta e conhecido no mundo por ser romantico se muda para la. Agora este grande homem vai ensina-lo que todo momento tem seu significado, toda palavra tem seu lugar, e tem um caminho para todo coração de mulher. [...] se orgulha em apresentar a história de um homem que deu ao outro a coragem para mudar sua vida, e a paixão para viver seus sonhos".


Curiosidade: Massimo Troisi, que interpreta o carteiro "Mario" na historia, morreu 12 horas após o fim das filmagens, devido a um problema cardiaco congenito. Ele adiou a cirurgia do coração para completar as filmagens. Ele foi póstumamente nomeado para Academy Award for Best Actor.



Obrigado pela atenção.
Thales B. Souzedo

domingo, 3 de abril de 2011

O jeito novo de fazer coisa velha


Eu tô aqui pra dizer
Que não acredito em você
No novo jeito de fazer
Coisa velha

Se tem menos medo
De ir pra lua
Do que sair pra rua
E todo deslumbrado é um desarmado

Eu tô aqui pra dizer
Que não acredito em você
No novo jeito de fazer
Coisa velha

Não é à toa que a primeira
Profissão foi a prostituição
Viver é se prostituir
No emprego que não se quer ir

Eu tô aqui pra dizer
Que não acredito em você
No novo jeito de fazer
Coisa velha

De pé atrás
Caminhando pra frente
Desconfia e afia a língua

Não adianta me olhar de cima pra baixo
Já pensei em morar no último andar
Do prédio mais alto

Deixei de vestir arame farpado
Olhar pra baixo
Andar calçado

OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 1 de abril de 2011

ESPECIAL 1000 ACESSOS E CINE DEBATE





Para início de conversa gostaria de agradecer, em nome de toda a equipe do Lâminas Verbais, as mais de MIL VISUALIZAÇÕES que recebemos nestas primeiras semanas de atividade.


OBRIGADO A TODOS!!!




Agora gostaria de chamar atenção para um fato ocorrido nesta semana, e depois para um outro que ocorrerá amanhã.

O primeiro é lamentável. No dia 28/03/2011 foi ao ar a entrevista realizada pelo programa de TV CQC, com o deputado federal Jair Bolsonaro ( PP ) - que é conhecido por suas declarações de cunho conservador. Entretanto esta ultima chocou o público.
Questionado por pessoas do povo o deputado mostrou-se favorável a ditadura militar, demonstrou acreditar que há uma relação absurda entre familias desestruturadas e homoafetividade, além de associar as paradas de orgulho gay a proliferação dos maus costumes.

Acompanhem na íntegra:




O segundo é a realização do Cine Debate - organizado pelo C.A. de História do qual também fazem parte os membros da nossa equipe.
O primeiro Cine Debate ocorrerá neste sábado dia 02/04 das 14h as 17h. Será exibido o filme MILK e em seguida haverá um debate sobre homofobia.


Como podem ver o primeiro fato relaciona-se com o segundo e vice-versa. Uma coincidência que veio bem a calhar.


Por fim, para não perder o caráter ácido e a problemática social de nosso Blog, deixo vocês com a entrevista que Francisco Bicudo - Jornalista e Professor Universitário - realizou com o antropólogo Luiz Mott.


Confira a seguir a íntegra da entrevista.

Aumento da violência contra homossexuais e visibilidade midiática

"De todas as chamadas minorias, os gays, lésbicas e travestis são as principais vítimas da intolerância, porque sofrem preconceito dentro da própria casa. São pais e mães que agridem, que xingam, que chutam, que batem e expulsam os filhos dos lares. É diferente do que em geral acontece por exemplo com judeus, negros ou portadores de deficiências, que são acolhidos e recebem apoio paterno e materno para enfrentar o preconceito. A homofobia institucional e cultural também pesa muito nas escolas, no exército, nas igrejas e na política, que ainda enxergam o gay como marginal.

A violência contra os homossexuais, portanto, vai dos insultos às agressões físicas e aos assassinatos. O Brasil lamentavelmente ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos de homossexuais. Em 2009, foram 198 assassinatos. Esse número chegou a 254 no ano passado. O aumento de violência letal tem sido acompanhado pelo crescimento de casos de agressão física em locais públicos, nas ruas, como aconteceu recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro, e que receberam atenção da imprensa.

Mas não se trata apenas de visibilidade maior oferecida pela mídia. Há infelizmente um aumento real do número de casos de mortes e de agressões. Um aspecto positivo a ressaltar é que essa visibilidade, por conta da pressão das paradas e de ações afirmativas, tem levado muitos gays e lésbicas a ter mais coragem de assumir a homossexualidade e a demonstrar carinho em público, a andar abraçados, de mãos dadas. Ao mesmo tempo, esse comportamento provoca a ira e a intolerância dos homofóbicos de maneira ainda mais intensa.

Portanto, temos de pensar em três questões principais e conectadas: a visibilidade, o crescimento da violência e a incompetência da polícia e da justiça em reprimir esses atos e em garantir a segurança de todos os cidadãos". 

Formação da sociedade brasileira e caldo de preconceito

"Pois é, como explicar o fato de o Brasil ser campeão mundial de assassinatos contra homossexuais? A cada dia e meio, um gay, lésbica ou travesti é morto barbaramente no país. Penso que esse cenário cruel e inaceitável está relacionado ao nosso passado escravista. O Brasil foi dominado por uma minoria branca insignificante, quem mandava aqui eram os 10% de machos brancos, que deveriam manter todas as mulheres e outras raças e culturas como subalternas e submissas. Isso obrigou os machos portugueses e brasileiros a desenvolver um código de extrema violência, de uso constante de armas, para garantir a supremacia dos machos. E isso obviamente fez com que qualquer sinal de efeminação ou de delicadeza por parte de homens fosse imediatamente considerado crime de lesa-sociedade, pois ameaçava a manutenção do projeto hegemônico no país". 

Superação do preconceito

"Vou ser bem objetivo. Acho que essa luta passa por três vertentes principais: educação sexual obrigatória em todos os níveis escolares, para ensinar a diversidade sexual; leis e ações afirmativas, para garantir a punição da homofobia, com o mesmo rigor com que é combatido o racismo; e severidade e rigor da polícia e da Justiça para investigar e punir os crimes cometidos contra homossexuais". 

Kits escolares contra a homofobia

"O governo brasileiro, desde 1996, ainda com Fernando Henrique, e depois no governo Lula, abriu discussões importantes sobre direitos dos homossexuais. Porém, das mais de 600 propostas encaminhadas pela I Conferência Nacional LGBT, realizada em 2008, nem 5% chegaram a se concretizar. Houve boa vontade, mas poucas medidas se efetivaram. Entre as ações afirmativas sugeridas estava justamente a produção de material escolar para o enfrentamento da homofobia. Essa reação de setores mais fundamentalistas reflete a intolerância ainda dominante em amplos segmentos da sociedade.

Tal comportamento se manifesta no exército, que proíbe a presença de homossexuais; nas igrejas, sobretudo nas evangélicas neopentecostais, que primam pela intolerância, mas também na católica, que muitas vezes acaba por refletir posição do atual papa, para quem a homossexualidade continua sendo intrinsecamente má. Nesse caso específico dos kits, acho que faltou também por parte do governo e da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros) uma divulgação mais bem planejada e articulada do material. As mais de 200 ONGs ligadas ao tema no Brasil sequer receberam os kits. E poderiam ter sido parceiras e aliadas para responder os ataques e ajudar a desconstruir esse discurso homofóbico, esse pânico que não tem razão de ser. O material vai orientar, foi muito discutido por entidades sérias e responsáveis, tem o aval do MEC".

Projeto que criminaliza a homofobia

"É importantíssimo, fundamental. A iniciativa equipara a homofobia ao crime de racismo, o que é uma coisa elementar. Chutar um negro é crime inafiançável, mas se o chute for dado em um homossexual, a punição vai depender da boa vontade do policial, do delegado e do juiz de considerarem o ato um delito, já que ainda não foi legalmente tipificado como crime". 

Campanha presidencial e resgate de preconceitos

"Penso que houve retrocessos dos dois lados envolvidos na disputa. Tanto Serra quanto Dilma tiveram um receio e medo injustificados de defender temas como aborto e união homossexual, o que é ridículo e lastimável. Espero que tenha sido uma coisa apenas pontual. Toda aquela grita, que ainda permanece, embora em menor escala, me parece ter sido mais uma estratégia eleitoral.

E espero que a presidente Dilma, que recentemente disse ter Marcel Proust como um de seus autores de cabeceira, possa ter a sensibilidade necessária e a vontade política para avançar no enfrentamento das ameaças que estão colocadas para os homossexuais.

Esperamos as garantias mínimas, a equiparação da homofobia ao crime de racismo. Como aconteceu na Argentina, desejamos também a aprovação do casamento integral. Não há razão histórica, legal ou ética para impedir que casais de gays e de lésbicas possam ter direitos e deveres idênticos aos consagrados aos heterossexuais". 

Nesta parte da entrevista exclusiva, o antropólogo Luiz Mott analisa os preconceitos muitas vezes difundidos por religiões, fala sobre redes sociais e estímulo à homofobia e critica a dimensão de espetáculo das paradas de orgulho gay. "A homossexualidade foi para mim uma graça, uma bênção. Tornei-me um ser humano mais completo".

Religiões e homofobia
"Há vários trechos das sagradas escrituras que têm conotações altamente racistas, machistas e homofóbicas. São entulhos de uma época onde patriarcado, intolerâncias e preconceitos contra homossexuais eram tidos como legítimos e eticamente justificados. Mas, assim como a tortura e as mutilações sexuais foram abolidas, ensinamentos homofóbicos devem ser depurados e rechaçados, seguindo, aliás, exemplo do próprio Jesus Cristo, que nunca discriminou qualquer segmento ou ser humano. O ‘amai-vos uns aos outros’ não excluía a paixão de uma pessoa por outra do mesmo sexo".

Preconceitos nas redes sociais

"Com o surgimento da internet, a homofobia também passou a ser divulgada de forma universal e muito mais nítida. Várias vezes internautas já agrediram com palavras e propagaram violência de uma forma absolutamente inaceitável, ensinando como matar homossexuais, sugerindo queimar a sede do Grupo Gay da Bahia, me acusando de pedofilia. É fundamental que mecanismos eficientes e rápidos, não de censura, mas de análise, fiscalização e restrição desse tipo de discurso e prática sejam estabelecidos e colocados em vigor. Porque essa prática atenta contra o Código Penal e contra os direitos e garantias individuais dos cidadãos".

Paradas do orgulho gay e espetáculo

"Desde as primeiras paradas de São Paulo, que começaram a arregimentar cada vez mais gente, até chegar a verdadeiras multidões, aplaudi aquilo que a sociologia vai chamar de momentos de visibilidade. Nossos inimigos homofóbicos têm de saber que somos milhões e que estamos organizados, por toda parte. Houve quem já chamasse a atenção, naquele momento, para um aspecto que até poderia ser negativo para a nossa luta, o fato de as paradas, pelos seus aspectos carnavalescos e dionisíacos, poderem amplificar o nível de preconceito daqueles que consideram que os gays são fúteis, são descarados, querem fazer depravação sexual em público. Mas agora no carnaval, por exemplo, a gente vê aquele moça negra dançando nua na Globo e isso não escandaliza ninguém. Por que se escandalizar então com um travesti que exibe seu corpo?

Agora, o aspecto político, penso, deve sempre nortear as paradas. Participei em Bogotá, no ano passado, de uma parada gay que devia ter no máximo dois mil manifestantes. Mas havia outras 40, 50 mil pessoas nas ruas, nas calçadas e nas avenidas principais da cidade que estavam aplaudindo, observando, dialogando, recebendo panfletos. Esse é o espírito.

Preferia que fosse sempre uma coisa assim. O que acontece é que muitas vezes pouco se pode usar o microfone dos carros alegóricos para proferir mensagens políticas, não há cartazes, banners, folhetos distribuídos com mensagens políticas, não se manifesta essa interlocução com a sociedade, fundamental para quebrar preconceitos. Espero que essas paradas cresçam em sua politização. É preciso aproveitar as multidões para realizar um discurso político mais intenso e evidente".

Homossexualidade, uma bênção

"Sou decano do movimento homossexual brasileiro, com mais de trinta anos de lutas contra a homofobia, e depois de ter sido criado numa família burguesa, conservadora, católica e paulistana, me casei, tenho duas filhas que me amam e compreendem minha dedicação à causa dos direitos humanos. E, apesar de ter sofrido muito com ameaças e até mesmo com agressões físicas, por conta da defesa das minorias, não me arrependo em nenhum momento por ter feito essa opção de defesa da cidadania LGBT.

Para mim, a homossexualidade tem sido uma graça, uma bênção, tornei-me um ser humano mais completo. E espero estar vivo para ver todos os direitos dos homossexuais equiparados aos direitos dos demais cidadãos".




Obrigado a todos, conto com a participação de vocês nos comentários e, quiçá, no Cine Debate amanhã.

Até mais ler!!! Abraços.



Marco Aurélio