terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Professor Pedro / Natal / Reflexões



A TV do quarto está ligada e as pálpebras se fechando com maior intensidade. Eram já 2h da manhã na casa do Professor Pedro, e nada do sono aparecer para tirá-lo da miséria em que se encontrava.
Na TV aqueles comerciais clássicos de final de ano, no outro canal aquele clássica mensagem de verdadeiro espirito de natal. Ora, ele sabia que somente mesmo o maior dos espíritos de porco seria capaz de pensar numa coisa dessas.
Verdadeiro Espirito de Natal? Do que é que aquela maldita máquina estava falando? O Professor Pedro sabe, aliás ele sempre soube que jamais houve essa história de espirito de Natal. O Natal nasceu vendido e capitalista.
Tudo bem, alguém poderia vir falar do Bispo Turco chamado Nicolau, mas não era disso que o Professor Pedro falava. Mas sim, que quando o natal ganhou a grande massa ele já tinha sido maculado com a marca do consumo. Comprem, Comprem e Comprem, era isso. Exploração desavergonhada, pura e seca.

O Tempo mudou, o homem vive pelo tempo do consumo, tempo do trabalho, do consumo e do trabalho de novo. E agora, naquele fatídico dia 20 de dezembro estava a menos de cinco dias de distância da mais consumista de todas as datas. O Natal.
O Jovem professor repudia o natal, e sente tristeza ao ver tantas pessoas com tanta demagogia. É fácil resolver o ódio e a discórdia de um ano todo com um cínico presente no final do ano. É óbvio que as pessoas se odeiam, o sistema propicia a divisão, é óbvio que todo mundo compete. E no final, até mesmo a conciliação é um espetáculo, é uma grande festa, uma palhaçada.
O Homem não vive mais por si, mas sim é representado. Como Debord já dizia. Tudo que fazemos é uma imitação da vida de um que interpreta a nossa por nós mesmos.


O Professor Pedro jamais se sentiria em casa, em família ou coisa assim. Por que o espectador não se sente em casa em lugar algum, o espetáculo ronda todos os lugares. Mas fazer o que, era isso que ele tinha naquele momento. Então fechou os olhos bem firme, desligou a maldita televisão que ele sequer sabia por que resolvera ligar e dormiu - muitas horas depois de rolar de um lado para o outro, mas dormiu.


Marco Aurélio

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