quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dezembro de 2012 / Noite Vazia / Solidão e Miséria intelectual.


Era dezembro de 2012, após o famigerado 2011 - o ano que nunca termina - sucedeu-se o ano em que o mundo deveria acabar. Isso é o que dizia um péssimo filme, aliás um dos piores que já surgiram no cinema. Enfim, eram 23 horas da noite e ele não conseguia dormir.
Do lado de fora, pela fresta da pequena janela do apartamento, ele conseguia mirar a cidade cinzenta - era como se houvesse passado um incêndio pelas ruas. Aliás, de fato passara, aquele verão estava mais implacável do que nunca.
Ele afrouxa o colarinho da camisa e apanha uma cerveja no refrigerador, estava realmente muito quente naquele prédio no centro da terra rasgada. A situação do homem é desesperadora, ele não gosta de ver TV, já leu e releu tudo que tinha vontade, e não consegue pensar em nada que valha a pena escrever.
Parece que não há escolha, ele terá que apanhar algum dinheiro na gaveta da escrivaninha, abotoar sua camisa , vestir uns sapatos e sair as ruas a procura de alguma diversão. E é exatamente isso que ele faz, não há como passar mais uma noite em claro no tédio e na solidão de seu apartamento.
Já nas ruas escaldantes da cidade ele passa pelo velho centro, cheio de bustos de canalhas que a classe dominante achou por bem conservar e enfiar goela abaixo da memória coletiva. Enquanto procura acende um cigarro para relaxar, o suor escorre pela sua testa e umedece os cabelos, e o arco de seus óculos.
Já estava no segundo cigarro e na quarta ronda pelo centro quando encontra o que procura. Uma garota bem em frente ao templo, encostada na estátua do assassino de indígenas. De estatura média e cabelos loiros, logo aguça o olhar de nosso andarilho da noite.
Ele se aproxima, o bombeador de sangue se apressa, o suor da testa aumenta, ele não acredita no que está fazendo, a voz vai sair rouca e fraca, é melhor recuar. NÃO! Ele já veio até ali, precisa terminar o que começou. VOLTE! NÃO, ele irá até o fim.
A garota o fita diretamente e se inclina para a frente a espera da proposta. Ele vacila mais uns instantes até que finalmente vence o receio e diz:
- Hey, podemos conversar?
E ela responde:
- Claro, vai ser aqui mesmo ou quer um lugar mais reservado.
- Pode ser aqui mesmo - diz ele.
- Sabe que isso tem um preço, não sabe? - Diz a garota
- Lógico que sei.
Ele tira do bolso uma nota amassada de cinquenta reais.
- Isso é o suficiente?
E ela responde:
- Sem dúvida, sobre o que quer falar?
- Sei lá, qualquer coisa - diz o rapaz.
- Apenas me tire deste desespero!!!!


Marco Aurélio

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