sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Velocímetro

O velocímetro do automóvel aponta 60 km/h. São dez horas da noite, e ele dirige não se sabe para onde.
Há qualquer direção que vá, parece não haver rumo, parada e tampouco um lar. É como se o mundo não comportasse o ser que havia por trás do volante.
Já desaminara das coisas, e isso era nítido em suas faces. Sua barba, espessa, começava a apontar pelos poros de seu rosto, era evidente que não se barbeava há dias. O cabelo era crespo e estava embaraçado, também havia crescido além da conta, mais ou menos a altura dos olhos.
O homem, que era jovem, desgastado pelo pouco tempo que vivera, pelas muitas frustrações, e sobretudo pelo pesado fardo que carregava - a consciência das coisas - seguia pelas ruas.
A noite estava bonita, a lua podia ser mirada no horizonte, não havia muitos carros nas ruas. Era a perfeita ocasião para pensar, sobre a vida e sobre qualquer outra coisa.
Sua vida havia tomado um rumo que ele jamais imaginara, o sujeito estava realmente desacorçoado. Não, não! Não pensem que tratava-se de um suicida, não, isso jamais lhe ocorrera. O caso é que indignava-se, porém, sem acovardar-se. Sabia que era preciso continuar vivendo, continuar lutando.
Eram já quase onze horas e ele ainda viajava, seu carro rasgava o silêncio e a escuridão da noite com os faróis e o ronco seco do motor.
Tudo que o homem queria naquele instante era um trago de conhaque, uma garota com quem conversar e talvez umas baforadas de um bom tabaco. Essas necessidades eram fáceis de suprir, eram imediatas, e podiam ser imediatamente remediadas em um boteco qualquer.
E foi exatamente o que ele fez, parou no primeiro bar que encontrou, onde teve todas as suas imediatices atendidas. Porém, o vazio de sua alma não poderia ser preenchido, somente disfarçado.

Marco Aurélio

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