sexta-feira, 1 de abril de 2011

ESPECIAL 1000 ACESSOS E CINE DEBATE





Para início de conversa gostaria de agradecer, em nome de toda a equipe do Lâminas Verbais, as mais de MIL VISUALIZAÇÕES que recebemos nestas primeiras semanas de atividade.


OBRIGADO A TODOS!!!




Agora gostaria de chamar atenção para um fato ocorrido nesta semana, e depois para um outro que ocorrerá amanhã.

O primeiro é lamentável. No dia 28/03/2011 foi ao ar a entrevista realizada pelo programa de TV CQC, com o deputado federal Jair Bolsonaro ( PP ) - que é conhecido por suas declarações de cunho conservador. Entretanto esta ultima chocou o público.
Questionado por pessoas do povo o deputado mostrou-se favorável a ditadura militar, demonstrou acreditar que há uma relação absurda entre familias desestruturadas e homoafetividade, além de associar as paradas de orgulho gay a proliferação dos maus costumes.

Acompanhem na íntegra:




O segundo é a realização do Cine Debate - organizado pelo C.A. de História do qual também fazem parte os membros da nossa equipe.
O primeiro Cine Debate ocorrerá neste sábado dia 02/04 das 14h as 17h. Será exibido o filme MILK e em seguida haverá um debate sobre homofobia.


Como podem ver o primeiro fato relaciona-se com o segundo e vice-versa. Uma coincidência que veio bem a calhar.


Por fim, para não perder o caráter ácido e a problemática social de nosso Blog, deixo vocês com a entrevista que Francisco Bicudo - Jornalista e Professor Universitário - realizou com o antropólogo Luiz Mott.


Confira a seguir a íntegra da entrevista.

Aumento da violência contra homossexuais e visibilidade midiática

"De todas as chamadas minorias, os gays, lésbicas e travestis são as principais vítimas da intolerância, porque sofrem preconceito dentro da própria casa. São pais e mães que agridem, que xingam, que chutam, que batem e expulsam os filhos dos lares. É diferente do que em geral acontece por exemplo com judeus, negros ou portadores de deficiências, que são acolhidos e recebem apoio paterno e materno para enfrentar o preconceito. A homofobia institucional e cultural também pesa muito nas escolas, no exército, nas igrejas e na política, que ainda enxergam o gay como marginal.

A violência contra os homossexuais, portanto, vai dos insultos às agressões físicas e aos assassinatos. O Brasil lamentavelmente ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos de homossexuais. Em 2009, foram 198 assassinatos. Esse número chegou a 254 no ano passado. O aumento de violência letal tem sido acompanhado pelo crescimento de casos de agressão física em locais públicos, nas ruas, como aconteceu recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro, e que receberam atenção da imprensa.

Mas não se trata apenas de visibilidade maior oferecida pela mídia. Há infelizmente um aumento real do número de casos de mortes e de agressões. Um aspecto positivo a ressaltar é que essa visibilidade, por conta da pressão das paradas e de ações afirmativas, tem levado muitos gays e lésbicas a ter mais coragem de assumir a homossexualidade e a demonstrar carinho em público, a andar abraçados, de mãos dadas. Ao mesmo tempo, esse comportamento provoca a ira e a intolerância dos homofóbicos de maneira ainda mais intensa.

Portanto, temos de pensar em três questões principais e conectadas: a visibilidade, o crescimento da violência e a incompetência da polícia e da justiça em reprimir esses atos e em garantir a segurança de todos os cidadãos". 

Formação da sociedade brasileira e caldo de preconceito

"Pois é, como explicar o fato de o Brasil ser campeão mundial de assassinatos contra homossexuais? A cada dia e meio, um gay, lésbica ou travesti é morto barbaramente no país. Penso que esse cenário cruel e inaceitável está relacionado ao nosso passado escravista. O Brasil foi dominado por uma minoria branca insignificante, quem mandava aqui eram os 10% de machos brancos, que deveriam manter todas as mulheres e outras raças e culturas como subalternas e submissas. Isso obrigou os machos portugueses e brasileiros a desenvolver um código de extrema violência, de uso constante de armas, para garantir a supremacia dos machos. E isso obviamente fez com que qualquer sinal de efeminação ou de delicadeza por parte de homens fosse imediatamente considerado crime de lesa-sociedade, pois ameaçava a manutenção do projeto hegemônico no país". 

Superação do preconceito

"Vou ser bem objetivo. Acho que essa luta passa por três vertentes principais: educação sexual obrigatória em todos os níveis escolares, para ensinar a diversidade sexual; leis e ações afirmativas, para garantir a punição da homofobia, com o mesmo rigor com que é combatido o racismo; e severidade e rigor da polícia e da Justiça para investigar e punir os crimes cometidos contra homossexuais". 

Kits escolares contra a homofobia

"O governo brasileiro, desde 1996, ainda com Fernando Henrique, e depois no governo Lula, abriu discussões importantes sobre direitos dos homossexuais. Porém, das mais de 600 propostas encaminhadas pela I Conferência Nacional LGBT, realizada em 2008, nem 5% chegaram a se concretizar. Houve boa vontade, mas poucas medidas se efetivaram. Entre as ações afirmativas sugeridas estava justamente a produção de material escolar para o enfrentamento da homofobia. Essa reação de setores mais fundamentalistas reflete a intolerância ainda dominante em amplos segmentos da sociedade.

Tal comportamento se manifesta no exército, que proíbe a presença de homossexuais; nas igrejas, sobretudo nas evangélicas neopentecostais, que primam pela intolerância, mas também na católica, que muitas vezes acaba por refletir posição do atual papa, para quem a homossexualidade continua sendo intrinsecamente má. Nesse caso específico dos kits, acho que faltou também por parte do governo e da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros) uma divulgação mais bem planejada e articulada do material. As mais de 200 ONGs ligadas ao tema no Brasil sequer receberam os kits. E poderiam ter sido parceiras e aliadas para responder os ataques e ajudar a desconstruir esse discurso homofóbico, esse pânico que não tem razão de ser. O material vai orientar, foi muito discutido por entidades sérias e responsáveis, tem o aval do MEC".

Projeto que criminaliza a homofobia

"É importantíssimo, fundamental. A iniciativa equipara a homofobia ao crime de racismo, o que é uma coisa elementar. Chutar um negro é crime inafiançável, mas se o chute for dado em um homossexual, a punição vai depender da boa vontade do policial, do delegado e do juiz de considerarem o ato um delito, já que ainda não foi legalmente tipificado como crime". 

Campanha presidencial e resgate de preconceitos

"Penso que houve retrocessos dos dois lados envolvidos na disputa. Tanto Serra quanto Dilma tiveram um receio e medo injustificados de defender temas como aborto e união homossexual, o que é ridículo e lastimável. Espero que tenha sido uma coisa apenas pontual. Toda aquela grita, que ainda permanece, embora em menor escala, me parece ter sido mais uma estratégia eleitoral.

E espero que a presidente Dilma, que recentemente disse ter Marcel Proust como um de seus autores de cabeceira, possa ter a sensibilidade necessária e a vontade política para avançar no enfrentamento das ameaças que estão colocadas para os homossexuais.

Esperamos as garantias mínimas, a equiparação da homofobia ao crime de racismo. Como aconteceu na Argentina, desejamos também a aprovação do casamento integral. Não há razão histórica, legal ou ética para impedir que casais de gays e de lésbicas possam ter direitos e deveres idênticos aos consagrados aos heterossexuais". 

Nesta parte da entrevista exclusiva, o antropólogo Luiz Mott analisa os preconceitos muitas vezes difundidos por religiões, fala sobre redes sociais e estímulo à homofobia e critica a dimensão de espetáculo das paradas de orgulho gay. "A homossexualidade foi para mim uma graça, uma bênção. Tornei-me um ser humano mais completo".

Religiões e homofobia
"Há vários trechos das sagradas escrituras que têm conotações altamente racistas, machistas e homofóbicas. São entulhos de uma época onde patriarcado, intolerâncias e preconceitos contra homossexuais eram tidos como legítimos e eticamente justificados. Mas, assim como a tortura e as mutilações sexuais foram abolidas, ensinamentos homofóbicos devem ser depurados e rechaçados, seguindo, aliás, exemplo do próprio Jesus Cristo, que nunca discriminou qualquer segmento ou ser humano. O ‘amai-vos uns aos outros’ não excluía a paixão de uma pessoa por outra do mesmo sexo".

Preconceitos nas redes sociais

"Com o surgimento da internet, a homofobia também passou a ser divulgada de forma universal e muito mais nítida. Várias vezes internautas já agrediram com palavras e propagaram violência de uma forma absolutamente inaceitável, ensinando como matar homossexuais, sugerindo queimar a sede do Grupo Gay da Bahia, me acusando de pedofilia. É fundamental que mecanismos eficientes e rápidos, não de censura, mas de análise, fiscalização e restrição desse tipo de discurso e prática sejam estabelecidos e colocados em vigor. Porque essa prática atenta contra o Código Penal e contra os direitos e garantias individuais dos cidadãos".

Paradas do orgulho gay e espetáculo

"Desde as primeiras paradas de São Paulo, que começaram a arregimentar cada vez mais gente, até chegar a verdadeiras multidões, aplaudi aquilo que a sociologia vai chamar de momentos de visibilidade. Nossos inimigos homofóbicos têm de saber que somos milhões e que estamos organizados, por toda parte. Houve quem já chamasse a atenção, naquele momento, para um aspecto que até poderia ser negativo para a nossa luta, o fato de as paradas, pelos seus aspectos carnavalescos e dionisíacos, poderem amplificar o nível de preconceito daqueles que consideram que os gays são fúteis, são descarados, querem fazer depravação sexual em público. Mas agora no carnaval, por exemplo, a gente vê aquele moça negra dançando nua na Globo e isso não escandaliza ninguém. Por que se escandalizar então com um travesti que exibe seu corpo?

Agora, o aspecto político, penso, deve sempre nortear as paradas. Participei em Bogotá, no ano passado, de uma parada gay que devia ter no máximo dois mil manifestantes. Mas havia outras 40, 50 mil pessoas nas ruas, nas calçadas e nas avenidas principais da cidade que estavam aplaudindo, observando, dialogando, recebendo panfletos. Esse é o espírito.

Preferia que fosse sempre uma coisa assim. O que acontece é que muitas vezes pouco se pode usar o microfone dos carros alegóricos para proferir mensagens políticas, não há cartazes, banners, folhetos distribuídos com mensagens políticas, não se manifesta essa interlocução com a sociedade, fundamental para quebrar preconceitos. Espero que essas paradas cresçam em sua politização. É preciso aproveitar as multidões para realizar um discurso político mais intenso e evidente".

Homossexualidade, uma bênção

"Sou decano do movimento homossexual brasileiro, com mais de trinta anos de lutas contra a homofobia, e depois de ter sido criado numa família burguesa, conservadora, católica e paulistana, me casei, tenho duas filhas que me amam e compreendem minha dedicação à causa dos direitos humanos. E, apesar de ter sofrido muito com ameaças e até mesmo com agressões físicas, por conta da defesa das minorias, não me arrependo em nenhum momento por ter feito essa opção de defesa da cidadania LGBT.

Para mim, a homossexualidade tem sido uma graça, uma bênção, tornei-me um ser humano mais completo. E espero estar vivo para ver todos os direitos dos homossexuais equiparados aos direitos dos demais cidadãos".




Obrigado a todos, conto com a participação de vocês nos comentários e, quiçá, no Cine Debate amanhã.

Até mais ler!!! Abraços.



Marco Aurélio

2 comentários:

  1. Nosso blog anda a 1000 por hora, e os posts andam me surpreendendo muito! OBRIGADO de coração a todos que separam 5 minutos de seus dias pra dar uma lida em nosso humilde blog. Muito bom o post de hoje, valeu Marco, valeu Renan e valeu Otavio! Ta muito foda isso aqui!

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  2. Começamos hoje o projeto CINE-DEBATE, uma iniciativa do Centro Acadêmico do curso de história da Uniso que apesar da falta de apoio e descaso com projetos voltados a sociedade foi um bom começo e com a experiência hoje adquirida os próximos serão exponencialmente melhorados. Agradeço aqui todos que dedicam uma pequena parte de seu corrido dia às reflexões tão necessárias atualmente e a presença de todos no CINE-DEBATE.Obrigado.

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