domingo, 30 de dezembro de 2012

Mudança?!

Como bons historiadores de buteco , sim é isso que somos, sabemos que toda essa divisão de tempo é construída historicamente pelos homens. Cada povo tem sua forma de contar o tempo, de acordo com seus costumes e a sua maneira. Vejam, por exemplo, o caos que um tal calendário Maia criou. Porém, definitivamente elas não existem.

No entanto, é praticamente impossível fugir das sensações que elas nos causam. Vejam, é o fim de mais um ano da era cristã, e de acordo com o calendário gregoriano estamos a um passo de um ANO NOVO.
A impressão de folha em branco se apossa de todos nós, e lá no fundo uma tímida esperança, uma promessa de uma nova escrita viceja em nosso ser. 
É claro que estaremos motivados logo no dia primeiro, tendo esta data como sendo o ponto de partida para iniciarmos aquilo que pensamos o ano inteiro. É uma nova chance de mudar os rumos de nossas vidas, mas a realidade e os vícios cotidianos nos põem a prova a todo instante.
As permanências sempre acabam superando as rupturas, como a história nos mostra. Então, somente quando a ruptura e “o extraordinário se tornam cotidianos” é que as coisas de fato mudam.
De qualquer forma será um ano repleto de espinhos, desapontamentos e, sobretudo... Permanências. Não obstante, que nossas rupturas, por menores que sejam, possam melhorar nossas vidas, e nos tirar - um pouco que seja - de toda essa miséria.


OTÁVIO SCHOEPS E MARCO AURÉLIO


sábado, 29 de dezembro de 2012

O mais íntimo desejo



Não quero a paz, quero o caos, a explosão trêmula num dia de sol, o som de ossos partindo e o sangue ardendo no olhar. Não quero a felicidade, mas a dor cruciante que fere almas e devasta irremediavelmente as cidades, os lugares mais inusitados. A bomba caindo, dramática e bela, descendo do avião com a mesma euforia de turista americano na cidade maravilhosa. Quero a desordem muda chegando de surpresa, quero esse silêncio perturbador, mais doloroso que os berros que se aproximam. E na mais profunda dor chegar ao abismo das almas perdidas, ao inferno fantasioso, na perdição de meus pecados.
Simpatia me enoja, céu azul de verão me deixa entediado, gosto da tempestade inquieta no fim da tarde, do trovão devastando qualquer outra onda sonora, e no furacão que vejo chegar por meio de noticiários, e rio, rio todo frenético, eles podem me chamar de maquiavélico, mas continuo com os olhos excitados, as veias molhadas e mais uma vez fervendo, sedento pela destruição em massa.
Iluminai-me escuridão, apenas com sua densidade, com a ausência de luz. Sou o demônio da estrada, roubando corpos para saciar o desejo de ouvir urros, gemidos e pedidos de piedade. O mundo está perdido, não por causa de pessoas como eu, só afogo meus desejos em realidade e desprezo a vida alheia, mas pelos quietos e obedientes, com insanidade comportada, pelo excesso de teoria e a falta de prática.
Sigo meu próprio padrão, talvez tão idiota quanto qualquer um, mas sou, infelizmente... Feliz. 


Gabriela Godinho

sábado, 22 de dezembro de 2012

TERRORISTA

Num bar imundo na periferia de São Paulo, um homem toma sua cerveja e assisti ao telejornal que trás uma notícia fresca vinda dos EUA,  no qual mais um doido comete uma chacina numa escola, matando crianças inocentes e professores, ele escuta a notícia sem esboçar nenhuma reação diante do fato, nenhum comentário, apenas pensa:
O ódio deve ser direcionado, enfiamos a vida no rabo com várias atitudes, eu mesmo me tornei policial, tenho muitas mortes nas costas e muitas medalhas no peito, matei muitos ladrões, estupradores, e nóias simplesmente porque eram folgados, mas hoje eu direcionei o meu ódio, persigo quem realmente fode a sociedade, e são muitas as pessoas das elites desse país, uma elite tão incompetente, que permite a minha existência, e se esse idiota dos EUA fizesse isso no congresso, enfiaria a vida no rabo, mas não mataria inocentes.

(TERRORISTA, seu nome não importa, sabe-se que ele era tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo, mudou sua visão de mundo e hoje é o terror dos corruptos).

OTÁVIO SCHOEPS

Mais uma a lá Bukowsky - De Charles Semem



Almeida sai de seu trabalho, mas antes de seguir seu rumo resolve parar no banco . Logo que avista uma vaga, lá estava um maluco se enfiando no meio da rua e desviando os carros para que Almeida pudesse estacionar. Ele estava com pressa, então nem pestaneja para encostar o carro ali mesmo.
- Boa tarde Patrãozinho, pode ficar tranquilo que aqui está seguro.
Almeida se incomoda um pouco, como o bom comunista que procurava ser, não gostava de ser chamado de Patrão. Afinal, embora estivesse engravatado e muito bem vestido em um terno marrom, era também empregado -  em um escritório de Advocacia.
Mas ele procura não se aborrecer com isso, vai até o banco e na volta deixa o dinheiro prometido. O rapaz agradece, e diz que este ano iria visitar sua filha no natal. Almeida não tem muita certeza se essa história procede, mas prefere não ponderar muito, toca a mão do jovem e segue seu rumo.
...
Mais tarde se encontra com uma garota, era bela e jovem, apesar de Almeida ser apenas cinco anos mais velho, a jovialidade da rapariga o impressiona. Sempre que sai com ela procura se barbear muito bem, para que a diferença de idades não seja tão gritante. Mas afinal que importava, estavam ambos na casa dos 20 e poucos anos, mas ela brincava, dizendo que ele estava na casa dos vinte e todos.
A conversa flui muito bem, enquanto fumam alguns cigarros e observam o movimento nas ruas. O paletó é deixado no banco de trás, assim como a gravata, o botão da camisa é afrouxado e as mangas arregaçadas. O clima estava agradável, era uma bonita noite de verão. Resolvem tomar algumas cervejas, e conversar em outro lugar.
...
De repente as bocas se calam, os corpos se aproximam e o sangue ferve nas veias, as faces ficam rosadas e algumas gotas de suor vicejam na pele. As roupas se amassam, e se perdem pelo chão, os lençóis já nem parecem mais terem sido tão cuidadosamente passados pela camareira.
- Estou em você - diz Almeida.
- E eu em você - diz a guria.
...
Depois disso mais alguns cigarros são fumados. Na hora do banho o chuveiro teve de ser regulado pela jovem, por que Almeida nunca foi bom em equilibrar água quente com água fria, sempre acabava ficando ou quente de mais ou muito gelado. Eles riem e fazem troça disso. 
Na concepção de Almeida isso era o amor. Pena que fosse efêmero. Pena que para não ser efêmero tenha de ser inconstante...

Charles Semem

domingo, 2 de dezembro de 2012

Quando a Escola Acaba.



Foto de: Marco Aurélio ( com ajuda de Raul Schiezaro )













Passamos muito tempo de nossas vidas na escola. Mesmo sucateada, a escola pública ainda representa o grande espaço de socialização de nossa juventude.
É neste espaço que se formam as primeiras amizades, os primeiros contatos interpessoais fora do nicho familiar. Normalmente é neste espaço que acontecem os primeiros beijos e abraços, os primeiros relacionamentos amorosos.
Como já disse passamos boa parte de nossas vidas na escola, pelo menos doze anos. Quando isso acaba, não podemos conter uma sensação estranha que surge em nosso ser, algo do tipo:
- E agora?
Pensar nessa pergunta é inevitável, afinal, por qual motivo passamos tanto tempo neste espaço? O que iremos fazer agora que tudo acabou?
Os que ingressam na Universidade, sentem um "gostinho" de que podem estender aqueles tempos por mais um pouco, mas logo percebem que não será a mesma coisa, nunca. Já os que entram de uma vez no mercado de trabalho, sentem ainda mais cedo o baque, as coisas mudam, e muitas vezes o horizonte revela uma realidade ingrata.
Isso é o que aconteceu comigo, e é o que percebo em muitos dos meus amigos e alunos. Quando a escola termina, muitos, senão todos, ficam perdidos, meio que a deriva.
O que causa todo este estranhamento, em minha opinião, é o fato de que a realidade em que os jovens são atirados ao final da escola é cruel. Querendo ou não, a Escola permite relações humanas mais próximas, espaços de convívio e um ambiente mais humanizado. É totalmente diferente do mesquinho cenário neoliberal, individualista e massificador, que configura o mercado de trabalho.
Quanto mais velho se fica mais vamos percebendo a impessoalidade e a mesquinharia que ronda nossa vida adulta.
Quando a escola acaba, só nos resta lutar contra essa ofensiva, criar espaços de convívio, de desenvolvimento pessoal e coletivo. Ou então, aceitar passivamente todo este processo, trabalhar, trabalhar e comprar o pacote completo da TV a Cabo.



Marco Aurélio