Quase sem piscar,
eu percebo que a noite está mais escura.
Agora, sozinho em meus sonhos acordados,
estou fatalmente a sós comigo mesmo.
Nem o barulho do giro surdo da Terra,
nem o barulho do que anda sobre a Terra.
Nada, senão o domínio total do silêncio da noite.
Silêncio da noite que me diz tudo que preciso ou não ouvir,
E me mostra exatamente como eu deveria ser.
Todas as coisas que eu poderia fazer, poderia começar, poderia me empenhar...
Noite que sussurra ideais incríveis;
Noite que aponta todas as soluções cabíveis,
Que embala alguns para o mérito do descanso
Que hipnotiza, inspira e consome outros – assim, exatamente, como eu.
Noite que me contradiz nas minhas poucas certezas pessoais,
Que me torna humano demais ou divino demais;
Que, em seu silêncio, nessa hora grave da madrugada,
Ressuscita momentos esquecidos para eu viver novamente
Demasiadamente, completamente, em cada pífio detalhe.
Noite que zomba de mim em minhas preces
Noite que eu sinto em meu coração como um milhão de anos apaixonado
Noite que mascara meus desejos com quadros, imagens e fotografias
E que me torna detento do cárcere deste universo infinito
Noite que maternalmente amamenta a minha insônia
Que faz com que eu deseje estar bêbado, ou morto, ou correndo lá fora
Noite que me dá o que mais quero, e que me tira o que mais preciso
Noite que me assiste escrevendo isso aqui.
Está tudo mais escuro.
(O Sol virá? Sim, virá - veja:
Como veio ontem, e antes de ontem;
E com ele a luz da realidade acordada
-“A única pupila que ilumina e ofusca o que vê.”
O mesmo Sol, sobre as pedras que jamais acordam
Com ele virá o amanhecer,
O despertar de mim mesmo para o dia:
Um outro dia, um novo mesmo amanhã.
Com ele virá a sensação de que amo o que penso que sou
Virá a nitidez da minha loucura sonâmbula
Virá a dispersão e o esquecimento das íntimas ânsias noturnas,
A sublimação dos sonhos que sonhei acordado -
Enquanto eu adormeço junto àquele outro
Que penso que poderia ser.)
Carlos H. Molina
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