Professor Pedro, cansado de suas idas e vindas nos coletivos da Urbes, resolve comprar um carro. Ele já estava a certo tempo trabalhando e tinha juntado um pouco de dinheiro. Não era muito. Para falar a verdade, não era praticamente nada - se levássemos em conta que ele já trabalhava há mais de cinco anos como professor efetivo.
O carro escolhido por ele era bem simples, tão simples como o próprio Professor Pedro. Não tinha vidros elétricos, nem trava automática, tampouco direção hidráulica; sequer um alarme. Com toda a simplicidade do mundo, o único luxo era o fato de funcionar tanto a álcool quanto a gasolina.
Mesmo com o dinheiro que havia juntado, ele não tinha o suficiente para pagar o carro a vista, e precisou parcelar o resto. Com as parcelas o carro ficou praticamente trinta porcento mais caro, mas fazer o que, era o único jeito. Ele precisava sair daquela vida de cão no transporte coletivo o mais rápido possível.
Já com o carro em mãos, o Professor Pedro se sentiu mais animado. Eram muitas as vantagens, ele chegaria mais rápido ao seu trabalho, e também voltaria mais rápido para casa. Teria muito mais tempo para preparar as suas aulas. Além, é claro, de que iria se cansar e se aborrecer menos.
Entretanto, nem tudo são flores. E logo - esperto que era o Professor Pedro - ele percebera que as vantagens eram infinitamente menores que as desvantagens. Em poucos dias a alegria do Professor Pedro deu lugar a uma imensa desilusão. Afinal, ter um carro, nesta cidade escabrosa, era tão incômodo quanto ter que andar de ônibus.
Era preciso se aborrecer no trânsito, que mais fica parado do que fluindo. Também era preciso estacionar seu veículo, o que já caraterizava um outro sofrimento. Tudo isso graças as montadoras de carros, que, para garantir seu lucro, precisam inundar nossas cidades com dezenas e dezenas de milhares de automóveis, sendo que não há a menor preocupação com o fato de que a cidade pode, ou não, comportar todos eles.
Enfim, a grande aquisição do Professor Pedro havia se transformado em um elefante branco. Era uma coisa que não tinha a menor utilidade, mais atrapalhava do que ajudava. A todo lugar que ia era preciso manobrar, pagar o flanelinha e ainda correr o risco de ser multado por um dos amarelinhos - como se sabe, muitas vezes eles multam a toa.
Era uma sexta-feira, o incansável Professor Pedro voltava de mais um dia de trabalho, olhou a sua frente e avistou a cidade cheia de luzes, as ruas até que tranquilas, e o ponteiro do velocímetro - que sinalizava 60Km/h. Então ele pensou no quanto fora ingênuo por acreditar que suas frustrações acabariam quando adquirisse aquele carro. E concluiu que não é essa a solução. A solução ele desconhecia, mas sabia o que não deveria fazer. Não deveria consumir para se sentir melhor, pois desse jeito sua vida continuaria vazia, tão vazia quanto o tanque de combustível de seu carro. [ continua ]
Marco Aurélio
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