Ele, então, caminha mais uns metros e pára, penteia sua espessa barba negra - com as mãos mesmo - e decide voltar.
Ao entrar na loja ele ainda não sabia bem o que iria dizer. Odiava o jeito vulgar como a grande maioria dos homens tratava as mulheres. De maneira nenhuma ele poderia entrar lá e passar uma cantada na moça. Não , de jeito nenhum.
A jovem o recebe com um belíssimo sorriso. Isso desarmou todas as suas defesas, o coração batia mais forte e a respiração ficou mais rápida. Era o velho clichê que rasgava-lhe o peito.
Mas que linda pequena, seus cabelos era pretos e longos, não eram totalmente lisos mas sim de um ondulado muito bonito. Sua pele era de um tom claro, algo bem próximo de um pingado com pouco café e muito leite.
O rapaz se aproximava do balcão, as feições delicadas da guria agora ficavam mais nítidas. Os longos cabelos negros eram uma bela moldura para aquelas formas. A essa altura os olhos levemente esverdeados dela o atingiam em cheio.
Donde estava não havia mais como recuar, mais duas passadas e estaria encostado no balcão, bem de frente a ela. O único jeito era avançar, e é isso que ele faz.
- Bom dia, em que posso ajudá-lo?
E agora? O que ele poderia dizer? Mas que voz suave, e que entonação alegre. Era uma garota incrível.
- Moço, o senhor está bem?
- Sim, estou.
Pronto, agora ela o achava um idiota.
- Só estava tentando recordar de que flores minha mãe gosta.
- E já se lembrou?
- Lírios. Ela gosta de Lírios.
Então a moça sorri e se vira para a prateleira onde estão diversos vasos com flores. O vestido ocre de alças tem a exata medida de discrição e sensualidade. O avental branco e as sandálias de tiras de couro dão a moça um ar bucólico, exatamente como os arcadistas costumavam narrar.
Frente a frente novamente, ela deposita, calmamente, sobre o balcão os vasos de lírio que estavam nas prateleiras.
- Acho que sua mãe irá gostar.
Enquanto ela mexe nos vasos, ele procura em suas mãos um anel de compromisso, mas não o encontra. Certamente se ele o avistasse, compraria as flores e sairia dali envergonhado. Mas não era esse o caso.
- Vai levar moço?
- Sim vou levar. Quanto é?
São doze reais, mas como são para sua mãe eu faço por dez. Hoje em dia é raro filho que leva presente para a mãe.
Ele fica envergonhado, afinal era mentira. As flores não eram para a mãe dele, mas sim uma desculpa para poder ficar perto da guria.
- Aqui está o dinheiro.
Ele pega os lírios e se vira para a porta. Porém, antes de sair totalmente ele pára um instante. Fecha os olhos, cerra a mão esquerda e pensa em voltar. Ele chegaria até o balcão, diria a guria que os lírios eram para ela e a convidaria para almoçar com ele. Mas como fazer isso sem parecer um maluco? Como dizer que quer conhecê-la sem parecer vulgar, inconveniente ou tarado? Ele não sabia como fazer isso.
O rapaz passa pela porta e ganha a rua. No balcão a moça fita a entrada da loja.
- Que moço gentil. Flores para a mãe. Deve morar sozinho com ela, não tinha aliança de compromisso. Será que ele volta?
Marco Aurélio
Marco Aurélio
Sensível, poético e romântico. Quem dera resgatássemos essa beleza no olhar.
ResponderExcluirMuito bela escrita!
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