quarta-feira, 30 de março de 2011

Estrangeirismo e a Sociedade Ideal


Estrangeirismo e a Sociedade Ideal
Linha da pobreza (muro de Berlin invisível)

Não é novidade que seguimos um modelo de vida ideal, buscamos sonhos que não são nossos e que a maior parte do povo não tem acesso a esses sonhos estrangeiros  que fogem da nossa realidade. Esse estrangeirismo nos impõe o seu padrão e nos diz o que deve ser vestido, o que comer, como se comportar, o que e onde comprar, etc. Como podemos viver um American Way of Life (lembrando que essa felicidade consumista acabou drasticamente em 1929) sendo que ainda temos, somente no Brasil,  50 milhões de pessoas vivendo  abaixo da linha de pobreza?  Esses moldes estrangeiros não se limitam a ala da direita, por muito tempo a esquerda brasileira importou moldes de revolução( pratica essa discutida por Caio Prado Jr. Em Revolução Brasileira).  Esse domínio cultural, que tal como um controle remoto, controlando  o que a massa uniforme vê, não é uma prática atual, o mundo já vivenciara algo parecido: O eurocentrismo. Motivados por um senso xenofóbico, e com uma crença que a europa é o molde de civilidade a ser seguido, os europeus (no século XV) partiram para a era dos descobrimentos com seus espíritos aventureiros (ou de porcos) e em busca do tão sonhado ouro e foram  “gentilmente” distribuindo sua cultura exemplar, sua religião, e exerceram seu direito de civilizar e  doutrinar o outro antagônico (e destruir os que resistiam).Poder é toda chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros”. Max Weber
Essa lógica abstrata de seguir os economicamente bem-sucedidos é um crime contra as culturas de “menor importância”, isso se reflete na arte, na música, na visão de mundo,que  por vezes deixam de lado suas especificidades, abandonam seu conexto, sua identidade cultural  para seguir o mestre do capital. Um exemplo disso é usar terno e gravata num pais tropical, ou admirar a pirâmide de Gizé e desconhecer chichen itzá. Este estrangeirismo discriminatório, alienador,  seguimentador se reflete até no  nosso modo de vermos o mundo(literalmente), onde a europa é o centro.
Dito isso gostaria de lembrar que o que (ou quem) sustenta essse mundo “desenvolvido” são os países por ele explorados, a europa no século XIV era miserável, estava em meio a uma crise de doenças, séculos depois através de guerras sangrentas e colonizações a europa torna-se um exemplo de civilidade a ser seguido? Vivemos num contexto único e devemos ao menos conhece-lo antes de tomar outros como moldes pre-concebidos.
Renan Bonassa

terça-feira, 29 de março de 2011

A morte da cultura - Adorno e Eu (1)

A maioria que acessa este blog, conhece a famosa politica do "Panis et Circencis", mas ela afeta nossa vida atualmente? De que forma?

Desde o começo da civilização, a industria cultural tem trabalhado mais e mais voltada para o lucro e a manipulação em massa. Foi assim na Roma do sec. IV e é até hoje aqui no Brasil.

Digo isto pois estou farto de ver a verdadeira arte e cultura serem esmagadas e completamente abafadas pela "cultura massificada". O carnaval por exemplo, é a maior amostra de "Panis et Circencis" hoje em dia, é literalmente dar comida, bebida e diversão ao povo, para que ele curta uma festa extremamente elitizada e exclusivista, e esqueça que quando voltar pra sua "maloca" não vai ter o que dar para alimentar seu filho. A industria cultural ja esta tão bem inserida em nosso cotidiano, que nós nem mais percebemos ela. Ouvimos o que os outros ouvem, vestimos o que os outros vestem e principalmente, pensamos igual a todos. Não isso não é nossa culpa, mas infelizmente ja nascemos com esta mentalidade de adequação social. E é isso exatamente o que ela, industria, quer. Ela quer não mais que as artes puramente revolucionarias venham para contestar o sistema, ela quer que o homem engula aquilo que é socialmente correto, e por fim vire um objeto da industria, vire somente o meio consumista. Já dizia Adorno "O consumidor não é rei, como a industria cultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa industria, mas sim seu objeto". Quanto mais essa industria cresce, mais as formas de cultura vão se apagando, sendo engolidas e subjulgadas em um sistema que não cria seres pensantes, que não cria senso critico, mas que sim cria zumbis, servos desta malévola industria.

Theodor Adorno é um de meus estudiosos favoritos, se não O favorito. Gostaria de colocar algumas frases que acho muito interessante em seus trabalhos sobre industria cultural:


"O que é subjetivamente, em si, falso, não pode ser verdadeiro e bom subjetivamente, para os homens."
"A satisfação compensatória que a indústria cultural oferece às pessoas ao despertar nelas a sensação confortável de que o mundo está em ordem, frustra-as na própria felicidade que ela ilusoriamente lhes propicia."
"A dominação tecnica progressiva se transforma em engodo das massas, isto é, em meio de tolher a sua consciencia. Ela impede a formação de individuos autonomos, independentes capazes de julgar e de decidir conscientemente."

Leiam: http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/211.pdf


Thales B. Souzedo

domingo, 27 de março de 2011

O grupo

O grupo é fechado
A panela está tampada
A panela é de pressão
A desordem maquiada
Como o povo é bom
Se tem pão e diversão

O grupo é fechado
Mantém as cobras criadas
Que rastejam atrás de poder, do bem-estar,
Do sexo, da droga e da distância

Transpira medo com cheiro de ódio
Cafeína e cocaína
Princípio ativo da economia
Cannabis sativa, satiriza, ironiza e massifica

O grupo é fechado
Olho gordo e mau-olhado
Cega a visão com fogo e espinho
Ferro quente muda toda opinião
De ser são
Rompe a proteção
Lavagem cerebral
Regras e doutrinas
Um louco profeta
Em cada esquina
Ensina e dita
A nova profecia.

OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 25 de março de 2011

Neutralidade?




-  O educador precisa ser neutro.
- A mídia é neutra e imparcial.
- Prefiro ficar neutro.

Estas são frases recorrentes em nosso dia a dia. Atualmente virou moda dizer que é neutro, que prefere ficar neutro. Como se tomar partido em algo fosse crime, como se defender seus ideais fosse atentar contra o direito de alguém.
É impressionante como é corriqueiro vermos esse tipo de discurso hoje em dia. Criou-se um clima de conformismo perante atrocidades, onde todos cultivam uma certa indignação enrustida, mas nada fazem para mudar.
É a pura mesquinharia, que nos cega perante a miséria, a opressão e a exploração do povo. Uma falsa ilusão de auto-suficiencia, de ser inabalável que basta para si mesmo. É isso que mantem as pessoas paradas, apáticas, ou melhor, na neutralidade.
Consciencia da situação as pessoas tem, sabem que há pessoas passando fome, sofrendo com a guerra, com a falta de emprego, de terras e por ai vai. Entretanto a grande maioria não enxerga a origem do mal. Não percebem que o programa sensacionalista que mostra o sofrimento do povo, que prega que bandido bom é bandido morto, cala quando é hora de denunciar os verdadeiros ladrões, os verdadeiros assassinos do homem.
Como é que podemos ficar na neutralidade quando a classe dominante nos oprime dia a dia? Como pode o educador ser neutro quando a educação é ambígua, deficiente e massificadora? Como pode-se afirmar que a imprensa é neutra, quando esta depende de concessões do estado, e é utilizada para veicular a ideologia da classe dominante?
Caros amigos, a neutralidade não existe. Neste mundo o que existe é um profundo antagonismo entre os que trabalham para sobreviver e aqueles que detém os meios de produção, a posse da terra e lucram com o trabalho alheio.
Ser neutro nessas circunstâncias é fechar os olhos para a opressão e a escravidão humana. É se acovardar perante a luta, negar sua condição de ser humano, andar na contra-mão do processo histórico, enfim, colaborar com o fim da história.
Não podemos ser neutros, não podemos ser omissos. A luta de classes está ai. A qual lado você pertence?

“[...] Os Proletários não tem nada a perder nela, além de seus grilhões.Têm um mundo a conquistar. Proletários de todo mundo, uni-vos.”. Manifesto do Partido Comunista – Marx, Karl e Engels, Friedrich.


Depois de lerem o texto vejam esse vídeo e reflitam um pouco: http://www.youtube.com/watch?v=2NkOpqbu-Ow




E ai vai ficar em cima do muro?




Marco Aurélio







quarta-feira, 23 de março de 2011

O homem e a Terra

O Homem e a Terra

Manuseie com cuidado
As relações humanas dentro da sociedade (como já se sabe) não são das melhores, graças à exploração do homem pelo homem, e vem piorando exponencialmente desde a revolução industrial, onde fora tirado do homem comum o seu modo de vida feudal (não que este seja menos exploratório), e fora-lhe imposta uma nova forma de existência onde só lhe restou à mão-de-obra, essa sendo vendida aos detentores dos meios de produção. Depois veio o êxodo urbano, jornadas de trabalhos surreais, junto a isso os problemas sociais (homicídio, suicídio, violência em geral, alcoolismo etc.) que cresceram tão rápido quanto os centros urbanos. Hoje essa alienação exploratória promovida pelos donos do poder atinge tal nível que muitos nem reconhecem sua existência e trabalham para alguém que não conhece apenas para garantir seu salário, mesmo que sua existência não dependa diretamente de seu trabalho, mas sim do dinheiro que esse lhe dá.
Não é difícil imaginar que um ser que explora seus iguais também explore a natureza que dela depende. Há uma teoria no mínimo interessante proposta por James E. Lovelock que diz que a Terra é um organismo vivo e que o homem é um câncer nesse organismo  e que há três formas de lhe dar com esse câncer: 1) O câncer mata o organismo. 2) O organismo elimina o câncer.3) Os dois coexistem de forma amistosa. A esse organismo vivo deu-se o nome de Gaia, uma referência a deusa grega da natureza.
Esse é um resumo das decadentes relações humanas, sempre prejudiciais não apenas a si mesmo, mas também ao meio em que estão inseridos, sendo este destruído pela ação do homem, que motivado pela ganância e cego pelo lucro, ignora os riscos hoje iminentes que a interferência no delicado ecossistema que vivemos pode gerar. Tal interferência é disfarçada por um senso errôneo de que os recursos são infinitos, crença essa que está enraizada na memória coletiva construída ao longo de séculos de exploração imediatistas visando um potencial lucro momentâneo, nunca olhando para o futuro e as conseqüências posteriores de suas ações. Essa prática momentânea compulsiva é muito comum nos países de terceiro mundo de hoje que buscam o “desenvolvimento” ignorando as implicações que envolvem essas atividades. O aquecimento global, o derretimento das calotas polares  e o efeito estufa são problemas reais e sérios, embora a mídia elitista faça vista grossa para esses problemas criados pelo homem justamente porque o centro desse debate é justamente a ação do homem que é inerente ao sistema (ou monstro) que criou.  Enquanto essa lógica capitalista ambiciosa, podre, injusta e ignorante estiver vigente, os países que buscam o desenvolvimento (que está nos levando à autodestruição) vão continuar a destruir não só os recursos necessários à vida, mas  as chances de prosperidade num planeta cada vez mais carente de atitude benéfica. ”O que destrói a raça humana é a incompreensão de ser humano...” Dorsal Atlântica
Evildead - Annihilation of civilization

Renan Bonassa

terça-feira, 22 de março de 2011

Industria Alimenticia (Animais)



Sempre penso nas coisas as quais somos sujeitados desde que nascemos, e uma delas (que é a mais corriqueira na vida minha atualmente) é a industria alimentícia (no caso – animais). Nós, em geral temos noção de quanto somos alienados pela industria alimentícia? Nós temos noção das torturas e brutais assassinatos que acontecem em locais de criação e abate de animais? Ou sabemos e fingimos não saber/não ligar?

Eu acredito que a industria trabalhou tanto sua propaganda que alcançou 2 grandes patamares:

1.   A alienação total quanto aos animais:
Nós hoje em dia, não vemos mais animais como seres vivos, pensantes que tem uma vida e relações sociais. A industria nos fez acreditar que são meros seres estúpidos (as vezes são diminuídos a nada), que não servem pra muito senão nos alimentar. E que comer animais é algo “instintivo” e “natural” do ser humano.

2.   Questão de status:
Hoje em dia temos o ato de comer carne, principalmente para o homem como algo másculo. Primeiramente pelas questões atuais de aceitação social, como normalmente os seres machos da espécie humana contemporânea são altamente homofobicos, para ser parte do grupo masculino, você precisa ser rude, e comer carne é algo rude, principalmente em churrascos, que são a principal vitrine de sua “masculinidade”. Depois disso temos uma questão mais primitiva, que seria a dominação sobre outro animal. Comer a carne te da a chance (mesmo que subconscientemente) de demonstrar que você foi capaz de dominar aquele animal, mata-lo e come-lo, por mais que você não o tenha feito.

Primeiramente, sobre as questões de ser “institivo” e “natural”, eu tenho uma teoria. EU acredito que o ser humano sempre foi principalmente vegetariano, por ser um animal sem demais armas como outros demais, e que começou a caçar e comer carne pouco tempo antes da criação da civilização e outros utensílios. Tenho como base a arcada dentaria do ser humano, que não é projetada (não teve tempo de evoluir) para comer carne, como a dos demais animais carnívoros em que os dentes são em formato de V para cortar a carne, enquanto os dos seres humanos (como os demais animais herbívoros e onívoros) são quadrados, projetados para triturar (plantas e grãos). Mas não sou biólogo ou antropologo, e não tenho estudo o suficiente para afirmar isto.

Eu acho que as pessoas tem de saber que todo este processo desde a criação dos animais até o abate e armazenamento é altamente prejudicial, tanto para o meio ambiente, quanto para a saúde. A criação de larga escala, leva ao desmatamento de regiões de florestas para criação de pasto para gado, este é o maior problema ambiental ocorrido hoje em dia no Brasil e no mundo, e devemos lembrar que o mar, o maior bioma do mundo, é o mais prejudicado, tendo varias especies dadas como extintas. Fora isso devemos levar em consideração que 60% da produção de cereais do mundo, sim – do mundo! É destinada a criação de animais para abate, todo este cereal poderia alimentar o mundo inteiro! Pensem bem! SEM FOME NO MUNDO. Fora isso, devemos pensar na grande produção de carnes processadas, oferecidas por redes de “fast-food” do mundo todo, que são carnes altamente gordurosas, baratas (são feitas com tudo o que tem no animal, desde o rabo até os ossos) e cheias de conservantes (um big mac pode se manter comestível até 1 ano após ser feito) e outros produtos químicos altamente prejudiciais a saúde. Sem contar as carnes de açougue, que ficam apodrecendo por semanas naqueles estabelecimentos e as pessoas insistem em comprar (mesmo sabendo que a carne de um animal começa a apodrecer 15 minutos após ele ser morto).

Infelizmente, esta “cultura” já esta extremamente enraizada em nossa sociedade, e isso não vai acabar (pelo menos não enquanto a sociedade continuar sendo ignorante).
Mas eu acredito que as pessoas deveriam ter uma idéia maior sobre o assunto (pois os desgastes ambientais envolvidos nestes processos são muitos!), e deviam ter um respeito maior por todas as formas de vida. Este é um caminho para uma sociedade mais igualitária.

Viver sem carne, não é uma atividade impossível, mas sim muito facil, eu mesmo já me provei isso e sou lacto-vegetariano a 1 ano e meio. Pra mim, consciência das coisas é o que eu preciso ter, então não uso produtos que causam ou causaram sofrimento a qualquer tipo de animal, seja direta ou indiretamente e não consumo produtos que subjuguem outras formas de vida. Eu acho isso muito gratificante, e pra mim é a maior prova de amor a natureza que eu posso demonstrar. Nunca passei fome e tenho uma saude melhor do que nunca.

Finalizando, pra mim não é justo você acabar com uma vida, só para enfeitar seu paladar. Hoje em dia, seres humanos não necessitam mais consumir produtos derivados de animais. Hoje é só questão de lucro (lembrando que são os grandes empresarios capitalistas que ganham pela carne de abate e não a pecuaria familiar).

Agora, para você que se interessou, talvez queira procurar algo sobre Frugivorismo e Veganismo (que pra mim é o mais legal). São coisas ótimas para acabar com este sistema cruel e sem sentido, e são movimentos que precisam cada vez mais de apoio.

Tenho certeza que esqueci de alguns pontos, mas o déficit de atenção é cruel comigo. Então quem quiser complementar, é pra isso que estamos aqui, para criar uma discussão embasada, democrática e inteligente sobre o assunto, respeitando a opinião de todos.


Obrigado pela atenção, e bom raciocínio!

Thales B. Souzedo

Por favor assistam:
http://www.dailymotion.com/video/xnpmy_documentario-a-carne-e-fraca_animals

Dica para ouvir enquanto pensa:

YOUTH OF TODAY - NO MORE

Nota posterior:
Escrevi este texto em 27 de novembro de 2010. Minha teoria foi descartada, pois após lembrar bases da Antropologia, com a ajuda de amigos, relembrei que os dentes dos seres humanos são quadrados, principalmente por sermos onívoros, não por consequencia temporal. Isso não exclui a importancia urgente do texto, ou do Vegetarianismo em nossa sociedade.
 

domingo, 20 de março de 2011

Tente entender

Tente entender é ver pra crer
Se a gente é o que pensa ser
De certa forma
Dessa forma incerta

Anseio pelo desejo
Receio pelo preço

E o que vejo

As marchas triunfantes
Sobre as cidades dominadas

Há dias que pelejo
Há vidas que esqueço

E o que vejo

As passeatas vibrantes
Sobre as ruas policiadas

Longe do ideal
Perto do real

Em um dia
Vou da tragédia à comédia
Do ruído à melodia.

OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 18 de março de 2011

Acidente Nuclear no Japão



"Para quem não engole os contos da carochinha do sistema, salta aos olhos que as usinas nucleares jamais serão totalmente seguras. Trata-se de mais uma opção que o capitalismo impõe à humanidade, a partir de um enfoque em que a relação custo/benefício é tudo e a vida das vítimas, nada".


Ai Galera, esse é um excerto de um artigo que saiu no Correio da Cidadania - da autoria do escritor e jornalista Celso Lungaretti - sobre o acidente nuclear no Japão.
Vocês poderão conferi-lo na integra acessando este link: 




Espero que leiam, e comentem.



Abraço, até a próxima postagem!!!


MARCO AURÉLIO




quarta-feira, 16 de março de 2011

Eu etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
carlos drummond de Andrade

Ler esse poema nos faz pesar no nosso modo de vida contemporâneo, neoliberal, capitalista etc...Não compramos produtos, mas sim, marcas das grandes corporações que monipolizam o mercado e atacam direto o subconsciente das massas através da propaganda, que acaba por fim, criando uma necessidade desnecessária, um falso bem estar através do consumo, uma "ilusão consumista".Com essa pseudo-vontade coletiva cria-se um modo de vida "padrão e ideal" a ser seguido, e quem se opor a esse padrão "normal" será estigmatizado pela sociedade comum de pensamento uniforme, massificado.Tendo isso em mente, nos cabe a reflexão sobre quem é realmente normal numa sociedade cega? Já dizia Nietzsche: "Eis que os que dançavam eram tidos por loucos aos olhos dos surdos que observavam."

Renan Bonassa

terça-feira, 15 de março de 2011

Crônica do Professor

Segunda-Feira, mais um dia  típico de inverno no interior de São Paulo - daqueles em que faz frio pela manhã e esquenta a tarde.
Pedro desperta, meio sonolento, ao som irritante de seu despertador. Ele se levanta, toma um banho rápido, veste suas roupas e toma um café as pressas. Mais uma semana de trabalho o espera...
A caminho da escola se depara com as mesmas pessoas de sempre, um ou outro aceno para cá, um sorriso para lá, e assim segue sua jornada até a escola onde leciona.
Pedro é simpático, inclusive nas segundas feiras - dia do mau humor. Assim que chega a escola seus alunos os vem receber, ele é muito querido por seus educandos. Depois de uns abraços, uns apertos de mão e muitos sorrisos ele se dirige para a sala dos professores. O pesadelo vai começar:
- Ai Pedro esses demônios não te deixam em paz. Como você aguenta?
- É Pedro, ai se fosse comigo...
Pedro odeia ficar na sala dos professores, lá é o local onde ele ouve os mais absurdos comentários sobre educação. Toda vez que é obrigado a ficar lá por uns minutos ele se pergunta o por que de deus não ter feito o homem com audição seletiva. E a tortura continua:
- Esse país não tem jeito. Bom mesmo eram os tempos da ditadura militar. Naquele tempo sim havia disciplina.
- Ah com certeza, quando minha mãe estudava os alunos não davam um pio na sala. Se falasse fora de hora apanhava, naquela época sim era bom. Havia respeito, os alunos tinham medo do professor.
- Mas hoje ninguém respeita mais, são todos um bando de mal criados, sem educação, não estão nem ai para nada.
Pedro ouve calado, e se corrói e meio a tanta falta de senso. Pedro sabe dos problemas da Educação no Brasil - e sobretudo no estado de São Paulo - , sabe do quanto o professor tem sido banalizado hoje em dia - com salários miseráveis, divisão da classe em categorias, e falta de autonomia e recursos em sala de aula. Porém Pedro é um guerreiro e não desiste de lutar - dentro e fora da sala de aula. Pedro é um ativista, tanto na luta sindical quanto nas causas sociais que o cercam.
Ele tem a consciência de que é um ser ainda inacabado, que aprende a cada dia, a cada aula que aplica, a cada diálogo com um aluno, a cada greve, a cada manifestação... Sabe da importância de estar sempre se questionando, se atualizando, aprendendo com seus erros, sendo solidário com seus semelhantes e lutando por melhores condições de vida.
Sim, Pedro sabe de todas essas coisas. É por isso que sofre tanto ao ouvir as baboseiras de seus colegas - mas não de todos. Porém, ele logo vai para sala, onde se sente bem. Ministra suas aulas com confiança e boa vontade. Ouvindo e sendo ouvido, dando broncas e sorrisos. Sendo humano.
Ao final do dia, ele está exausto, entretanto volta para casa com a sensação do dever cumprido. Ele deu o melhor de si, cometeu alguns erros, outros acertos. E agora poderá descansar, pensar e repensar suas atitudes - como gosta de fazer. Para então no outro dia começar tudo denovo...

... assim são os dias de meu querido Professor Pedro.


Marco Aurélio