terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Luneta e a Bailarina

















No apartamento bagunçado está o Astrônomo
velho e solitário, com seus livros e tratados pelo chão,
não fez grandes descobertas e seus artigos não receberam nenhuma premiação.
Com sua velha Luneta observa o céu, é o que mais gosta de fazer para distrair a solidão.

Acidentalmente mira o prédio da frente, e na janela entre aberta ele vê.
Vê uma bela moça, com a saia rodada e o cabelo amarrado com um laço de fita.
Ela dá saltos e faz giros, equilibrada na ponta das sapatilhas.
Se move com graça, beleza e leveza. Moça, tão moça... moça bonita.

Nem Galileu, nem Copérnico, tampouco Newton explicariam.
Não havia órbitas, nem constantes, somente incógnitas.
Os olhos do Astrônomo se agitavam, pelos movimentos que se seguiam.

No meio da sala a moça pára, com sua pele alva e os olhos fixos.
Mira o velho cientista e ele se esconde, envergonhado.
Por uns instantes esqueceu o infinito, enternecido, pela graça e beleza de uma Bailarina. 


Marco Aurélio







O tempo e o vento







A dor pede remédio
O tempo cura
O sorriso desfeito
O vento leva

A dor vem de tempos em tempos
A maior dor é a de ter causado a dor
Em um bebê, uma anja, uma menina...
Vejo-me, sem minha máscara, sou o algoz

Das dores que eu causei, o tempo me cobra
Das dores que eu causei, o vento trás de volta
Hoje o que eu tenho senão o tempo e o vento
Me cure, me leve


OTÁVIO SCHOEPS

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sacada Fabricada





Estava lá mais uma vez, presa em padrões, estereótipos e classes.
 A mídia impondo, ordenando, doutrinando. Ela  fazendo pose para a foto naquele site.
Os olhos que a vigiam brilham cheios de uma criticidade fabricada.
Moldes de perfeição pairam em todos os cantos daquela sacada.
Vestindo-se para ser igual, pensando ser diferente.  Se enganando dizendo não fazer parte, o tempo todo desejando não ser  transparente.
Não querido, ela não é cool, nem cult, nem está  na moda.
Mas tem uma chapinha de bolso.
Fica bêbada daquela cerveja fedorenta e cara, só pra você olhar e a achar descolada.
Baixou todos os sons da lista indie.
E nas fotos faz cara de chapada.
Mas, na real, ela é mesmo como você.
 Quer estudar cinema. Queria ser DJ. Achou melhor não comer carne e detestar o BBB.
Queria montar uma banda e apresentar um programa de TV.
Estava lá mais uma vez, presa em padrões, estereótipos e classes.
Mas até o coelho percebeu que já é tarde. 


THAÍS ALVES