Muito provavelmente o que irei escrever agora não será novidade para ninguém. Não pretendo que meu discurso configure uma grande novidade as pessoas, por que na realidade não passa de uma leitura do que está se tornando cada vez mais óbvio.
Porém, refletindo, baseado no acumulo de experiências deste ultimo ano, e sob a luz das leituras que me forcei a fazer nestes tempos, conclui algumas coisas que gostaria de socializar.
É cada vez mais evidente que o desenvolvimento gerado pelo Capitalismo brasileiro, em muito baseado no Neoliberalismo econômico e entreguista, gerou cidades onde convivem duas cidades bastante diferentes. De um lado há miséria e falta de acesso a direitos básicos garantidos pela constituição federal. De outro, há acúmulo de riquezas, conforto e acesso a todas as regalias que o capitalismo pode oferecer, entretanto também há medo e insegurança.
O que acabo de dizer não é novidade, tem sido tema de debates no meio intelectual desde, pelo menos, meados da década de 90. Porém, esse processo estourou e veio a tona durante a Copa das Confederações, com as Jornadas de Junho. Hoje, vemos as principais capitais brasileiras serem palco de verdadeiras batalhas campais, onde a "canalha" disputa vorazmente o território que lhe foi usurpado e o direito a cidade que lhe é negado constantemente, todos os dias.
O que muita gente afirmava ser o fim da História, o chamado "Marasmo Neoliberal" foi abalado por revoltas em todo país. Inúmeros agentes históricos, que até então não haviam aparecido por estas bandas entraram em cena, destaque para os Black Blocs, e assumiram papel central nas lutas.
O velho discurso preguiçoso e derrotista de que partido político é tudo igual e política não serve para nada, tem perdido espaço, e as diferenças ideológicas, até mesmo na velha política do mais do mesmo, ficam mais evidentes.
Nos ônibus vejo gente falando de política, mesmo em pleno mês de Outubro, bem após o auge das Jornadas de Junho. Os vários Shoppings inaugurados na cidade atraem pessoas para as compras, mas também são alvos de críticas, e não poucas. Sorocaba não precisa de tanto Shopping, Sorocaba precisa de mais cultura.
Até mesmo os ATPC´S do professorado, da mais plena monotonia tem passado para palco de acalorados debates sobre política e sobre a conjuntura atual do país. Realmente todo esse clima tem espantado, até mesmo um velho entusiasta das idéias de Lenin e admirador da Revolução de Outubro de 1917.
Claro, espero não estar sendo utópico, embora o clima seja de otimismo, devemos ficar muito atentos e tomar os devidos cuidados. No entanto não posso deixar de festejar, por menor que seja o despertar de uma consciência maior em todos nós.
Aonde vai dar todo esse processo não sabemos, e sequer sabemos se irá para algum lugar. No entanto, o que sabemos é que somos nós os condutores da linha da História, e embora não a façamos como queremos, já dizia o velho e barbado Marx, somos nós quem a conduzimos.
Diversas forças estão em campo, e não há motivos para ninguém correr da praça. Se os Black Blocs fazem o certo ou não só saberemos ao final do processo, porém é fato que quebrar vidraças de bancos e destruir o patrimônio acumulado pelas grandes corporações soa como uma reparação Histórica - não que acredite nisso.
Afinal foram anos de ofensiva Neoliberal, de retiradas de direitos e ultrajes por parte dos nossos governantes, neste momento em que a "patuleia" ocupa as ruas para retomar o que é seu por direito, é natural que haja com violência, sobretudo contra os símbolos da opressão. Exigir que os Black Blocs tratem as vidraças dos bancos com carinho é quase tão absurdo quanto pedir que os escravos libertos arrumassem seus grilhões com zelo e fino trato após serem libertos.
Somos os agentes da História, e talvez estejamos em pleno prelúdio de um processo revolucionário, momento em que ficar em cima do muro de nada adianta. Essa é a chance que temos de retomar nosso papel de transformadores da sociedade, arrancar a força a garantia de nosso direito a cidade e transformá-la em um lugar mais justo e igualitário para se viver.
Marco Aurélio